A última e única vez que falámos sobre Educação foi antes do 25 de Abril quando o Jorge Sampaio defendeu num processo académico um assistente meu e eu fui ao seu gabinete levar um livro sobre a legislação do Ensino Superior. Depois, embora durante um período curto, eu assumi imensas e importantíssimas responsabilidades no campo da Educação e o Jorge Sampaio nunca achou útil conversar comigo, que mais não fosse para se informar sobre a minha experiência. Agora, vejo-o a falar no excesso de reformas do sistema educativo. Claro que tem razão quando transmite a ideia de que não é com uma mítica reforma que se resolvem os problemas do nosso sistema educativo. Mas o Jorge Sampaio não se deu conta de que a situação da Educação em Portugal é fundamentalmente devida a um bloqueamento total do debate sobre a Educação desde há mais de 20 anos. O Jorge Sampaio diz que "é preciso travar o desinvestimento público (na Educação)" . É claro que tem razão quando considera que o investimento é importante, mas aquilo a que é urgentemente necessário por fim é à ausência total de planeamento e ao desperdício de verbas e energias e aos investimentos disparatados, feitos ao sabor de interesses pontuais e particulares, que fazem de nós um caso único na Europa e que estão a comprometer gravissimamente o nosso futuro. Sem o verdadeiro e fundamental debate que tem faltado, e sem dirigentes capazes de, a partir dele, tomarem as medidas de simples bom senso que se impuserem (que exigirão, sem dúvida, visão e alguma coragem) as dificuldades continuarão a aumentar e o sistema continuará a afundar-se. Não me parece, assim, que os seus apelos e a sua crítica, feitos de longe e de cima, sejam uma verdadeira ajuda, ou mesmo um contributo para uma melhor compreensão do que actualmente se passa. Lisboa, 07-05-2004
|