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Da sociedade da informação às flexibilidades?

FOI APENAS QUANDO A TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO, ANTES, E MAIS TARDE AS NOVAS TECNOLOGIAS DAS COMUNICAÇÕES, DESIGNADAMENTE A INTERNET, ENTRARAM NO CAMPO DOS PROCESSOS DE FABRICAÇÃO DOS BENS (?) QUE COMEÇARAM A SURGIR DESIGNAÇÕES COMO SOCIEDADE PÓS-INDUSTRIAL OU SOCIEDADE DE SERVIÇOS.

Uma das vertentes do movimento para o que viria a ser apelidado de sociedade da informação - a vertente aberta pela invenção dos computadores - concretizou-se através do progressivo aproveitamento das possibilidades oferecidas pela então grande informática. Tanto por parte de organizações estatais como de grandes empresas. A etapa que se seguiu disse respeito à introdução da comunicação de dados, sobretudo a partir dos anos sessenta do século XX para cá: iniciava-se, deste modo, o caminho para um desempenho muito mais ?potente? dos meios de captação e tratamento da informação do que alguma vez poderia ter sido imaginado.
Outra vertente do movimento para a sociedade da informação seria consubstanciada através das aplicações propiciadas pelo emergir da tecnologia dos satélites. Com efeito, com base nestes foi possível ampliar imenso o campo da obtenção de informação e, portanto, estender até níveis insuspeitáveis as possibilidades de satisfação, antes de tudo, da espionagem militar ou económica, mas também a da sua recolha para fins meteorológicos.
Além disso, e não se tratou de uma questão de somenos, com a introdução dos satélites de comunicações, a televisão pôde entrar numa fase de expansão com alterações qualitativas profundas: quer a nível do seu alcance em zonas remotas de grande extensão, designadamente no ?terceiro mundo?- com o Brasil e a Índia, à cabeça -, quer a nível da transmissão global de programas, ou seja, da transmissão de informação e conteúdos em simultâneo para todo o mundo (lembram-se do ?All you need is love??).
E acabou por ser - por tudo isto - estimulado um encaminhamento do pensamento por parte dos teóricos da política e da sociologia, em particular nos EUA e no Canadá, através de novas vias: as que viriam a dar na sociedade da informação. Além disso, numa época em que a Guerra Fria atingia o seu cume, a informação, a contra-informação e a intelligence constituíam elementos de importância determinante para o confronto a nível mundial dos dois grandes blocos.
Portanto, deve ser tomado em conta - o que poucas vezes acontece - que foi no caldo deste ambiente que começou a ser gizada a noção de sociedade da informação.
Mas, foi apenas quando a tecnologia da informação, antes, e mais tarde as novas tecnologias das comunicações, designadamente a Internet, entraram no campo dos processos de fabricação dos bens, foi portanto quando a própria base industrial da produção foi atingida pelos seus impactos, que começaram a surgir designações como sociedade pós-industrial ou sociedades de serviços. Contudo, o que na realidade estava em jogo era o efeito da(s) tecnologia(s) da informação (e comunicação) e daí o ter antes vingado, como perspectiva estruturante, a da informação e da sociedade da informação.
Com efeito, numa primeira fase, os efeitos mais visíveis foram o da redução da necessidade quantitativa de mão-de-obra produtiva directa para os mesmos objectivos de produção e o da requalificação tecnológica de boa parte da restante. Mas, desde logo, outros efeitos se tornaram cada vez mais visíveis: (i) o da redução radical de consumo energético por cada bem produzido; e (ii) o da flexibilização dos processos de fabrico - isto é, passou a ser cada vez mais possível [economicamente] ajustar a produção com uma mesma linha de fabrico de bens variados, desde que o software seja adaptado para tal.
É claro que as coisas não são assim tão simples na prática. Mas vale a pena ter em conta as questões derivadas de tal alteração de paradigma.
E, para além da flexibilização de um ponto de vista dos diferentes bens a fabricar, também o ajuste das quantidades a fabricar de um mesmo bem passou a ser mais fácil. Por esta, mas também por outras razões não aludidas neste artigo. O que fica, contudo, é que esta última perspectiva está de acordo com o que já tem sido apelidado de um capitalismo sem atritos? Ajusta-se, sem mais, ?em tempo real?, o número de trabalhadores à procura!


  
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Edição:

N.º 128
Ano 12, Novembro 2003

Autoria:

Francisco Silva
Engenheiro, Portugal Telecom
Francisco Silva
Engenheiro, Portugal Telecom

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