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Semana Europeia da Juventude

Juventude em Acção

Numa iniciativa inédita a ?Semana Europeia da Juventude: Juventude em Acção?, que decorreu de 29 de Setembro a 1 de Outubro, juntou em Bruxelas cerca de 150 jovens oriundos dos países membros da União Europeia, dos pré-aderentes, do Mediterrâneo e da EFTA (Islândia, Liechtenstein e Noruega). O objectivo: dar a conhecer os 20 melhores projectos locais desenvolvidos no âmbito do programa Juventude em cinco categorias: intercâmbio, serviço de voluntariado europeu, iniciativas desenvolvidas pelos próprios jovens, projectos desenvolvidos a pensar nos jovens com deficiências e projectos da Europa do Mediterrânico [EuroMed].
Na base do programa Juventude está o reconhecimento da importância da educação não formal. Sendo que esta é uma das frentes de batalha prioritárias na política da juventude definida pela DGEC no Livro Branco ?Um novo impulso para a juventude europeia?, publicado em 2001.
A ideia-chave do programa ?é promover a mobilidade vista como um instrumento de consolidação e de participação dos jovens no espaço europeu?, esclarece João Vale de Almeida, director para a área da Juventude, Sociedade Civil e Comunicação. ?Só conseguimos cooperar com os outros quando os conhecemos e percebemos o que temos em comum, mas também o que não é partilhável?, acrescenta.
Mas os 20 projectos escolhidos para estarem presentes em Bruxelas na exposição ?Juventude em Acção? constituem uma pequena amostra dos cerca de 10 milhões de projectos que todos os anos se candidatam aos apoios financeiros do programa Juventude. Segundo as contas da DGEC este programa envolveu cerca de 400 mil jovens até à data. Um número que Viviane Reding, Comissária para a Educação e a Cultura, considera ?baixo, tendo em conta as potencialidades dos jovens, mas alto face ao reduzido orçamento disponível? do programa que rondará os cinco milhões de euros para o período de 2000 até 2006.

Mais acção menos discurso

A participação dos jovens na vida social e política dos seus países e da União Europeia é algo que compete aos Estados promover. Diz Vivianne Reding, responsável pela pasta da Educação e Cultura da Comissão Europeia. Mas ausência de associativismo está a deixar os jovens isolados e com pouco poder de intervenção junto dos decisores políticos. Os jovens não estão alheios a esta falta de influência e querem agir.

Num pequeno hemiciclo no edifício que alberga a Direcção-Geral da Educação e Cultura (DGEC) da Comissão Europeia, em Bruxelas, decorria uma mesa redonda sobre o projecto da futura Constituição Europeia inserida na celebração da ?Semana Europeia da Juventude? [ver caixa Juventude em Acção]. Da mesa Alison Weston, presidente da Juventude Europeia Federalista (JEF) discursava.
Depois de uma dissertação sobre algumas questões da política europeia e da nova constituição, Alison Weston interpelava a assistência, composta pelos participantes na ?Semana Europeia da Juventude?, com uma questão retórica: ?Porquê que estas questões relacionadas com a política europeia vos hão-de interessar?? A ideia estilística do discurso talvez fosse desembocar na conclusão de que ?afinal? o cinzento da política europeia pode bem ser importante para a juventude colorida dos Estados que são, dos que não são e dos que querem vir a ser membros da União Europeia. Mas a assistência não gostou do estilo. E da bancada uma jovem ripostou contra a retórica de Alison Weston: ?Acho que está a subestimar os jovens!? 
A prova estava na sala no primeiro andar do edifício da DGEC. Nela um aglomerado de nacionalidades partilha um espaço físico e emocional comum: a exposição ?Juventude em Acção?. Uma visão do sonho europeu.

Participar na Europa

Foi voluntário acompanhante de língua para a equipa do Uruguai nos Jogos Olímpicos de Pessoas com Deficiências, na Irlanda. Essa é a razão pela qual Pedro Ruas está em Bruxelas a participar na semana europeia da juventude.
?A experiência foi inesquecível?, frisa. Talvez, por isso, lhe cause algum espanto o facto de juntamente com uma amiga terem sido os únicos voluntários portugueses no evento. ?Se calhar éramos os únicos que sabíamos!?, brinca. E mais a sério diz que a falta de participação pode ter origem na pouca divulgação dos programas e iniciativas promovidas pelas entidades europeias. E nesse caso, a responsabilidade é das agências portuguesas ligadas à área da juventude: Instituto Português da Juventude (IPJ) e Secretaria de Estado da Juventude.
?A agência nacional do programa Juventude, na Irlanda, produz os seus próprios documentos alusivos às iniciativas europeias e distribui-os directamente nas escolas e nos grupos de informais de jovens?, explica Pedro Ruas. Ao passo que em Portugal, critica o voluntário, ?o IPJ espera que sejam os jovens a tomar a iniciativa de se dirigirem às suas agências para ir buscar a informação?. Além de tudo isto, ?a ideia de que está tudo disponível na Internet pode ser falaciosa?, diz Pedro Rua, podendo estar a impedir que a informação seja veiculada por canais mais eficientes.
O problema da falta de participação, para João Vale de Almeida, director para a área da Juventude, Sociedade Civil e Comunicação da DGEC, não pode ser encontrado apenas ao nível da falta de informação, antes num défice global de participação dos jovens na vida da comunidade em que se inserem, seja ao nível das freguesias, dos municípios e das regiões e da União Europeia. ?É necessário fazer algo em termos da participação directa dos jovens na vida democrática formal, designadamente nos processos eleitorais, e na vida pública?, adverte. Conseguir essa empreitada depende de dois factores: da organização dos jovens em grupos ou associações para facilitar o endereçamento da informação e da sensibilidade dos poderes políticos para ouvir os jovens antes de tomarem decisões que os afectem.
Pedro Ruas pertence a uma associação no litoral alentejano de onde é natural. A colectividade Sócio-Cultural Barrense. Mas de acordo com os estudos realizados pela Direcção-Geral de Educação e Cultura (DGEC) a grande maioria dos jovens europeus e mesmo dos países aderentes está isolada. Para Vivianne Reding, Comissária para a Educação e a Cultura, a falta de associativismo entre os jovens é um problema da sociedade. ?Os jovens não aceitam as instituições que as gerações mais velhas estabeleceram, por isso, cabe-lhes a eles criar novas instituições que lhes permitam elevar as suas vozes.? Do lado da DGED, refere a Comissária Europeia, cabe alertar os decisores políticos, locais, regionais, nacionais e europeus para que tomem as medidas necessárias para tornar a participação dos jovens mais efectiva.

Recriar o conceito de associação

Frederico Menichelli trabalha com grupos informais de jovens na área do teatro escolar em Perugia, Itália. A associação cultural que fundou a ?Lavori in Corso? (Trabalho em Curso) está desde 1985 a desenvolver projectos de agregação social usando como ferramentas o teatro, o vídeo e a música. A sua experiência leva-o a partilhar da opinião de Vivianne Reding quando afirma que o problema da pouca participação dos jovens quer na vida pública ou política dos países e da União Europeia tem uma razão social.
?Tenho 41 anos e vejo que os jovens na casa dos 20 estão habituados a estar separados?, constata. ?O conceito de associação não pode ser forte numa sociedade que pressiona o jovem para ser individualista, ou seja, para ser o melhor e o remete para os chats na Internet. Por isso temos de usar novos instrumentos para recriar o conceito de pertença a um grupo.? Outro dos ângulos da questão, acrescenta Frederico Menichelli, é a falta de poder de intervenção das associações já existentes. Sem força para fazer ouvir as suas vozes as associações não cativam os jovens, diz. Se a situação se invertesse talvez o associativismo formal e informal aumentasse. Além disso a falta de apoio financeiro bloqueia muitos projectos de desenvolvimento local.
Um dos projectos mais recentes desenvolvido pela associação, um festival de teatro escolar, conseguiu mobilizar mais de 300 jovens provenientes dos liceus de Perugia com idades entre os 15 e os 19 anos. Mas a iniciativa não seria possível sem o apoio da autarquia local que cedeu as salas de espectáculo municipais para as representações. O mesmo acontece com um outro projecto realizado pela ?Lavori in Corso?. Um festival de carácter internacional, o Momenti 2003, em que participaram associações teatrais da Roménia, Suécia, Polónia, Inglaterra e Alemanha.  
Para Frederico Menichelli o contacto com outras associações na ?Semana Europeia da Juventude? assume uma importância inegável. ?Só assim podemos descobrir quem, ao nível local num outro país está a fazer o mesmo que nós. E desta forma estabelecer sinergias internacionais.? A preocupação europeia no apoio a iniciativas de desenvolvimento local é bem-vinda porque, ?contribui para diminuir a distância entre a União Europeia (UE) e as regiões que a compõem?, diz Frederico. O problema é explicar localmente que cada bairro faz parte do todo europeu. É que para muitas pessoas a UE é vista como algo que está fora do seu país. ?Mas a minha casa está na UE!? , conclui.


  
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Edição:

N.º 128
Ano 12, Novembro 2003

Autoria:

Andreia Lobo
Jornalista, A Página da Educação
Andreia Lobo
Jornalista, A Página da Educação

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