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O que significa conceber a realidade numa prespectiva holística?

A perspectiva holística da realidade é representada pela idéia de uma consciência transdiciplinar. Presente em todos os setores do conhecimento, ela diz respeito ao conjunto de saberes particulares, visando o entendimento acerca dos mecanismos de funcionamentos humano e físico. Nesse sentido, a compreensão do real, sob a ótica holística, somente alcança uma definição, ainda que provisória, a partir da análise das inter-relações com outros elementos, e não pelo método cartesiano, que "analisa o mundo em partes e organiza essas partes de acordo com leis causais"

(Capra, 1999:80).

As contribuições da Física Moderna...

Na Física as análises sobre o assunto são evidenciadas, sobretudo, pelos estudos do físico Fritjof Capra. Segundo Capra (1999:91), "a física moderna transcendeu a visão cartesiana mecanicista do mundo e está nos conduzindo para uma concepção holística e intrinsecamente dinâmica do universo". Há-de se ressaltar, porém, que essa perspectiva ainda não é compartilhada consensualmente na economia interna da ciência contemporânea. As relações sobre as quais assentam-se a nossa perspectiva econômica, não obstante, têm corroborado essa visão holística de ciência.

As mudanças nos planos religioso e social...

No plano religioso podemos enfatizar as lutas em prol do reconhecimento, validade e igualdade das variadas crenças, o ecumenismo. No plano social podemos destacar as lutas pelos reconhecimentos da igualdade entre as raças e de gênero.

A função da dimensão econômica...

As mudanças de perspectivas coincidem com as transformações econômicas. Toda economia contemporânea visa a destruição das barreiras internas das inúmeras nações que fazem parte desse mundo globalizado. Essas barreiras representam, sobretudo, as múltiplas tradições humanas: caso esses preconceitos - assim são denominadas essas tradições internas - persistam, pode não haver a consolidação integral do capitalismo. Portanto, a econômica globalizada necessita de um homem que corresponda a essas exigências, ou seja, um homem cujo comportamento não represente nenhum perigo à hegemonia econômica instaurada.

Os impactos no campo educacional...

A ação educacional não se restringe apenas às questões cognitivas, relativas aos processos de aprendizagem. A amplidão no campo educacional contempla uma intervenção sócio-cultural mais profunda. Nesse sentido, o nosso principal desafio aponta para o fato de que a educação precisa conciliar, em suas bases, o binômio, desenvolvimento auto-sustentável e justiça social, levando o estudante a aprimorar suas percepções de si mesmo e dos outros, enquanto ser individual, social e cultural.

Para cumprir tal tarefa, é indispensável, a priori, revita-lizar as participações políticas dos diferentes segmentos da sociedade, especialmente no espaço escolar. Aliado a isso, torna-se imprescindível a reelaboração dos currículos nas diferentes áreas do conhecimento, como forma de reconhecer e incorporar nas prática pedagógicas e sociais a diversidade cultural, denominada visão multicultural dos processos (cf. MacLaren, 2000).

A quem interessa a visão holística ?

Esse é um dos elementos chaves para compreendermos por que a visão holística não incomoda os países ricos. Ao contrário, podemos constatar que a maioria das publicações dessa área provêem desses países, principalmente dos EEUA.

Na sua economia interna, a perspectiva holística de ciência possui conceitos de natureza, espaço e tempo que visam a superação da física mecanicista. O problema, contudo, é que o holismo tem contribuído para a estabilização de um mundo globalizador e excludente: não estamos aqui a defender a perspectiva mecanicista de mundo, mas levantando alguns problemas de ordem prática. É bom não esquecermos: cabe a essa nova física a criação de armas altamente destrutivas, armas essas que não sabemos, ainda, como eliminar, constituindo-se numa sucata de altíssima periculosidade.

É, acreditamos, desnecessário dizer que esses avanços trazem consigo elementos mais precisos de destruição e escravização humana. Nunca, em toda a história humana, o homem esteve tão controlado e tão submetido quanto atualmente. Esse nível de controle chegou a um ponto que já é possível o preconceito genético: a escolha de empregados, de segurados e até da constituição física e sexual do futuro filho.

Toda a idéia de relativismo que perpassa a ciência contemporânea é a mesma estabelecida nas nossas sociedades. Esses são, cremos, elementos imprescindíveis para uma séria reflexão sobre o nosso modo de ver o mundo, pois podemos estar a um passo da nossa destruição, ou da nossa redenção. Porém, as chaves desse sistema não estão em nossas mãos, mas, infelizmente, nas daqueles que detêm o efetivo poder.

Assim como a revolução galilaica representou a ruptura com valores de épocas passadas, estamos hoje a atravessar esse mesmo processo de perdas. Toda superação de um paradigma espelha profundas mudanças operadas numa concepção de mundo. A superação do paradigma geocêntrico representou o fim de um longo período da hegemonia política feudal. E hoje, para onde estamos a caminhar? Que estamos a viver uma crise, isso é evidente, o problema, contudo, é estarmos no meio desse processo, e por isso não termos distância suficiente para uma análise objetiva. O que nos resta, sob tais circunstâncias, senão conjecturar?

Osvaldino Marra Rodrigues e Sandra Vidal Nogueira
Universidade Federal de Uberlândia/Brasil/Minas Gerais
sand
ravn@ufu.br
Referências Bibliográficas
  • CAPRA, Fritjof. O ponto de mutação. Trad. Álvaro Cabral. 22 ed., São Paulo, Cultrix, 1999.
  • MCLAREN, Peter. Multiculturalismo revolucionário: pedagogia do dissenso para o novo milênio. Trad. Márcia Moares e Roberto Cataldo Costa. Porto Alegre, Artmed, 2000.

  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 107
Ano 10, Novembro 2001

Autoria:

Osvaldino Marra Rodrigues
Univ. Federal de Uberlândia, Minas Gerais, Brasil
Sandra Vidal Nogueira
Univ. Federal de Uberlândia, Minas Gerais, Brasil
Osvaldino Marra Rodrigues
Univ. Federal de Uberlândia, Minas Gerais, Brasil
Sandra Vidal Nogueira
Univ. Federal de Uberlândia, Minas Gerais, Brasil

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