«No professor há um elemento de performance. O mesmo elemento que há num actor ou num grupo musical. O professor tem uma satisfação, um pagamento, pelo acto de ensinar e aprender. Isto é muito importante. Eu não estou a dizer que o professor não tem de ser bem pago, mas que há uma recompensa. Os Rolling Stones têm um orgasmo quando tocam perante o seu público, mas são multimilionários - o ideal seria que o professor tivesse a mesma situação, mas sabemos que é muito difícil. Portanto, a primeira questão é que o professor tem uma recompensa imediata na interacção com os alunos. Mas também sofre muito: sofre com o problema da indisciplina; sofre quando tem à sua frente crianças que não estão dispostas para a aprendizagem; sofre com as pressões indevidas dos pais e mães; sofre porque a sociedade inteira, quando tem um problema, vai à escola e diz que a responsabilidade é da escola; e se é da escola, é do professor - o professor é responsável pela criminalidade, pelas meninas que engravidam aos 14 anos, pela falta de emprego, pelo aumento do consumo de drogas... Em última instância, o professor é responsável por tudo o que funciona mal! E isto é uma pressão imensa sobre o professor. O meu segundo filho - Pablo, como Paulo Freire - estudou Filosofia Analítica. Andava à procura de emprego e, um dia, disse-me que durante dois anos ia ser professor do primeiro grau. Eu pensei cá para mim: este homem é um teórico e vai sofrer terrivelmente quando enfrentar as crianças. Passado algum tempo, ele veio ter comigo e disse-me: "Pai, estou felicíssimo". Mas porquê, perguntei-lhe. "Descobri que estou na profissão mais antiga do mundo". A profissão mais antiga do mundo?! "Ensinar a aprender é a profissão mais antiga, a mais venerável, a mais honrada"... Como é que eu podia imaginar que um rapaz que estudou Nietzsche durante quatro anos, que podia ser o mais niilista do mundo, porque trabalhou a parte mais difícil da Filosofia Contemporânea, estava a desempenhar uma tarefa que o fascina, que o enlouquece, que o cansa? O rapaz gosta de dormir, mas sai de casa às 5h30 da manhã e chega às seis da tarde, esgotado. Trabalha de noite, dorme poucas horas e ganha pouco, mas está feliz - encontrou o emprego mais distinto. Que professor é que preferimos para os nossos filhos: um professor que está sempre aborrecido, que sofre a profissão, que não sente vocação, que não tem um espírito optimista, que não motiva os seus filhos? ou um professor com muito entusiasmo, energético, criativo, bem formado, utópico? Preferimos um professor utópico! A pedagogia é uma das poucas profissões, em todo o mundo, que faz ser utópico mesmo quem o não é. O meu filho chegou da Filosofia Analítica, de ler Nietzsche, que é um crítico devastador do capitalismo ocidental, e em três meses de trabalho tornou-se utópico [risos]. Uma maravilha!...» apanhado de intervenção de Carlos Alberto Torres
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