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Seremos Todos Bons Amadores?
Chamo a sua especial atenção, caro leitor, para o número 4 da Revista "O Papel do Jazz", desta vez numa versão trilingue (Português, Espanhol e Inglês). Este é um número bem interessante pelas curiosidades históricas sobre o Festival de Jazz de Cascais (cuja 1ª edição se verificou em 1971), mas, sobretudo, pelo artigo de Pedro Costa sobre os músicos de jazz estrangeiros residentes em Portugal. E a propósito da recolha do testemunho destes músicos, o articulista interroga-se se haverá jazz português. Recordemos que sobre este tema já se escreveu na Página, utilizando-se nesse antigo texto um figurino interrogativo, e deixando-se ao leitor a decisão da resposta: sim ou não. Isto é, para uns haverá um jazz português, para outros não se pode falar de jazz português. Compreende-se a aceita-se facilmente que não é possível uma opção por um "mais ou menos". Eis aqui então um bom tema de reflexão: ser ou não ser arte (de resto, tema que sob este título tem história na crítica literária e outras).
No que respeita ao jazz Pedro Costa é peremptório: "... o jazz feito em Portugal confina-se ao estilo Americano... A maioria dos músicos portugueses está completamente afastada do que se pratica em alguns países da Europa como a Holanda, França e Itália". Aqui temos uma clara opção pela não, isto é, para Pedro Costa não existe jazz português. Aconselha-se vivamente os interessados a ler e a reler este artigo, porque nele, além dos factos, o que se pode destrinçar é um método de análise que vai para além da música, porque penetra no social.
Mas não entremos em demagogias sobre o ser artista português ou sobre o acto social de ser português. Vamos, apenas, para terminar, recolher desta revista os testemunhos que se seguem:
- Gregg Moore, trombonista norte-americano: "os músicos portugueses não gostam de ensaiar, não aparecem ou chegam miseravelmente tarde com uma desculpa qualquer".
- Carlo Morena, pianista italiano: "em Portugal as possibilidades são muitas, embora o desenvolvimento seja lento".
- Claus Nymark, trombonista dinamarquês: "os músicos portugueses gostam pouco de trabalhar em grupo, ensaiar, como tal, trabalha-se pouco nos projectos que estão sempre condenados a um ou dois "gigs". Este músico dinamarquês acha ainda que o público português é um tanto ou quanto snobe e pergunta: "como é possível o mesmo artista ter a casa cheia na Gulbenkian e tocar no Hot Clube para meia dúzia de pessoas?"
Pronto, já chega. Um único comentário: poderíamos extrapolar? Seremos todos, em Portugal, apenas bons amadores... em tudo...?

Guilhermino Monteiro

  
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Autoria:

Guilhermino Monteiro
Escola Secundária do Castêlo da Maia
Guilhermino Monteiro
Escola Secundária do Castêlo da Maia

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