É Fevereiro! É mês lindo para mim! Mais bonito ainda foi certamente para os meus pais. Eles fizeram-me e, num ano que não me apetece dizer qual, no mês mais pequenito, eu mostrei-me ao mundo. Sim, foi só nesse momento, porque no século passado, naquele tempo, ecografias e coisas que tais não moravam na minha terra. Agora que sou crescida dou comigo estarrecida a ver a longa metragem que tem sido a minha vida e, sem falar nos desempenhos, nos guiões e outros detalhes, quedo-me no avanço dos efeitos especiais que a produção ordena. Pasmo! Pasmo e tento reflectir. Há imagens, sejam de cor, de som, de silêncio, de palavra, de magia que me encantam e transportam ao mundo do fantástico que é condimento essencial, diria imprescindível para o alimento da minha pessoa. Ser capaz de estar sentada na realidade e poder sonhar até à utopia é o orgasmo porventura mais conseguido. Desta fala tão bonita, perdoe-se a imodéstia de sentimentos, passo aos especialistas de efeitos tantas vezes perversos, por deliberados, que abundam e crescem tanto quanto mais fazem regredir os objectos a que se destinam. Este "objectos" inclui pessoas, daí a gravidade das manobras. Nós que defendemos convictamente a dignidade da pessoa e das sociedades, independentemente da origem, do sexo, da religião, da cultura, ..., nós que valorizamos a diferença condenando a discriminação, nós, aqui neste país que tem História, temos uma caixa em casa, que teimamos em pôr a funcionar, onde nos servem pratos de difícil e dolorosa digestão. O título do escrito, certamente conduziu a uma associação com uma exposição de insignificâncias e mediocridades que, não só aquele, mas um certo canal de televisão apresentou e reincide: o big brother. Que coisa, meu; não há condições, t?ás a ver? Na verdade os meus concidadãos não merecem a condição para que os remetem e ficam a ver ...nada. A Educação por que tanto pugnamos! Onde está? Quem a pratica? Quem a partilha? Como se constrói em conjunto? Assiste-se à quase perfeita entrada no mundo do "sucesso" efémero, à submissão estupidamente alegre às técnicas de marketing, à venda de tristes imagens. Mas quem entra, de um modo geral, é assim meio analfabeto (salvo os poucos laivos de pensamento lógico). Não tenho o direito nem a missão de condenar quem quer que seja, mas se os meus pais me puseram no planeta para existir, tenho o dever de pensar e o desejo de partilhar as congeminações. Constato então que, não a culpa no sentido judaico-cristão que paira sobre nós, mas a responsabilidade de tudo isto é de todos nós. Assim, nem mais! E como as audiências mandam, sem se darem conta de que são mandadas, cá estamos como nos carrinhos eléctricos das feiras "atenção à paragem, nova corrida, não entrem com os carros em andamento". Apresenta-se nova edição e, na apresentação, com padre a abençoar e tudo! São altas questões de psicologia, são provas (testes) à resistência vocacional do ser humano, estejam atentos intelectuais da nossa praça! A sério, muito a sério, estejamos atentos e passemos da reflexão à acção: lá, na escola, na comunidade. E o programa em causa foi, naturalmente, um mero pretexto, com e só com a importância que tem. Iracema Santos Clara Escola E. B. 2/3 Dr. Pires de Lima - Porto
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