Uma adolescente, vestida com a roupa negra tipicamente palestiniana e a cabeça coberta com um pano branco, atira uma pedra contra um jipe do exército israelita, correndo em seguida para trás de um muro de cimento a fim de proteger-se dos disparos dos soldados. Numa sociedade em que, de um modo geral, a mulher está relegada ao lar, cenas como esta, observada nas proximidades do colonato judeu de Kfar Darom, são cada vez mais frequentes durante a Intifada, o levantamento palestiniano. "Lançar pedras não é o papel que concebemos para as mulheres", declara Aitemad Muhanna, uma das dirigentes da organização não governamental "Women's Empowerment Project". "Os rapazes são mais fortes e melhores a lançar pedras do que as raparigas", diz esta responsável, precisando que as jovens que participam no levantamento são cada vez mais numerosas "porque querem contribuir seriamente para a Intifada". Durante a primeira Intifada (decorrida desde Dezembro de 1987 até aos acordos de Oslo de 1993), o movimento islamita Hamas pediu às mulheres que participassem na rebelião apenas visitando os homens feridos e ocupando-se das famílias dos "mártires", os palestinianos mortos pelas balas israelitas. Desta vez, porém, "as mulheres estão decididas a desempenhar um papel mais activo", afirma Muhanna. Malek Shubair, coordenador da ONG "Gaza Community Health Project", considera, por sua parte, que tal "será difíciló", já que a sociedade palestiniana "é muito machista", diz, explicando que as mulheres são vítimas da violência dos homens na sua sociedade e sentem-se, ao mesmo tempo, impotentes ante a agressão israelita. Entretanto, Muhanna, psicóloga que presta assistência às mulheres vítimas de violência familiar ou traumatizadas pela perda de seus maridos ou filhos na Intifada, acha que as palestinianas começam a rebelar-se aproveitando este movimento popular. "Nós assumimos o papel tradicional que é o de atender os feridos e tratar de vestir e alimentar as famílias dos mártires, mas aproveitamos a situação para discutir com as mães e viúvas sobre os meios de melhorar a educação, de resistir à violência familiar e de nos tornarmos mais independentes", acentua. Dirigido por Shadia Saraaj, o "Women's Empowerment Project" tem vários ramos de actividade, entre os quais a assistência às mulheres traumatizadas e a formação em informática, costura, fotografia, vídeo, cerâmica etc... Cerca de 400 mulheres assistem actualmente aos cursos dados na Faixa de Gaza, mas a lista de espera de candidatas não pára de aumentar desde que começou a Intifada, no dia 28 de Setembro. "Ensinamos-lhes que podem ser independentes economicamente e que não devem resignar-se à violência familiar nem à opressão política", ressalta Saraaj. A autoridade palestina de Yasser Arafat tende a aceitar progressivamente o facto de as mulheres assumirem um papel activo nas tomadas de decisão, indica Muhanna, assinalando, porém, que só há cinco mulheres entre os 80 membros do Parlamento palestiniano. (AFP)
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