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Portugal e Brasis

As relações entre Portugal e Brasil continuam a ser tema de debate. Serão sempre tema de debate. No Brasil, os portugueses, e só os portugueses, têm igualdade de direitos garantida constitucionalmente. Devemos falar claro: de todas as "árvores" plantadas por Portugal é o Brasil (cujo nome vem do nome de uma árvore), a mais amiga, aquela "nas ondas do mar de mundo inteiro", pela qual tantos portugueses morreram, que mesmo contra a vontade de alguns (de lá e de cá) continua com uma fortíssima matriz cultural portuguesa. Os filhos sentem a necessidade de emancipação dos pais. Casam-se, formam novas famílias, conhecem novas pessoas, têm interesses diferentes dos pais. Mas isso é natural. Recentemente Miguel Sousa Tavares disse no "Público" que não viu grandes parecenças entre o Brasil de S. Paulo e do Rio de Janeiro com Portugal. Ele lá sabe. A própria localização geográfica do maior país da América do Sul, faz com que as "parecenças" não "apareçam". Mas quem tenha conhecido Moçambique, já nas margens do Indico, vê muito mais parecenças. Aliás, com a destruição sistemática do nosso património arquitectónico histórico, não tenho dúvidas de que hoje existem no Brasil (vejam-se Olinda, ou Ouro Preto) traços de arquitectura portuguesa - que de resto também estão no Rio - e que estarão a desaparecer (será?) em localidades como Vila Real. O resto tem que ver com a questão dos filhos. O Brasil tem influência italiana, espanhola, alemã e japonesa. É muito grande para ser uniforme. A influência africana também nós temos, e teremos sempre em comum a herança dos nossos "pais romanos e árabes". Nisso Miguel Sousa Tavares tem toda a razão. Não é certo (terá até sentido?) olhar até Timor-Leste e passar pelo Brasil sem o ver. É verdade que chamar "galegos" aos portugueses não ajuda; mas também não é bonito chamarem-nos "tugas", como quem nos fala mal da mãe. Isso acontece com muitos amigos africanos. "Caçar" brasileiros na Portela é absurdo. Portugal fez futuros com irrealismo e sonho; talvez por isso me tenha oferecido para dar aulas em Timor. Esperam-se voluntários (dos que efectivamente fazem a trouxa e partem).

Maria Gabriel Cruz,
docente da Utad.


  
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Edição:

N.º 92
Ano 9, Junho 2000

Autoria:

Maria Gabriel Cruz
Univ. de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), Vila Real
Maria Gabriel Cruz
Univ. de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), Vila Real

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