Em 3 de Fevereiro, ano 2000, 3:43 PM, hora de Nova York (2043 GMT) titulou a CNN em português: "Ex-director da CIA navegava na Internet com computador com dados secretos." Lia-se mais: "O ex-director da CIA, John Deutch, costumava acessar a Internet por um computador doméstico que continha arquivos confidenciais, concluiu o serviço secreto dos Estados Unidos, alimentando temores de que os segredos guardados no PC possam ter sido roubados. A informação foi dada num relatório confidencial do inspector geral da CIA, agência de serviço secreto norte-americana.(...) "
Mas que conversa! Então o homem faz uma coisa destas, a notícia é dada para o mundo todo pela CNN, que cita "um relatório confidencial"(?) O que se entende por "confidencial"? Não terão os cidadãos comuns razões para duvidar da sanidade mental deste tipo de dirigentes? Fará isto parte do conceito de "circo total", ou se assim entendermos de absoluta palhaçada (com a costumeira ressalva daqueles que exercem com honra a profissão de palhaços)?
Tivemos recentemente outro exemplo de "palhaçada". No Chile, os problemas de Pinochet deixaram de ocupar as mentes das pessoas. O Ministério da Educação(!) financiou um projecto de "iniciativa de investigação artística", que consistiu em construir uma casa em vidro, aonde Daniela Tobar, de 21 anos, estudante da Universidade Católica, fez a sua vida aos olhos de quem passava, junto de uma igreja e do palácio presidencial, (La Moneda) aonde um dia, durante o golpe de Pinochet, mataram o Presidente Salvador Allende. Daniela despiu-se perante multidões hululantes, tendo-se registado casos de agressões sexuais a pessoas do sexo feminino e até (pelo menos) uma violação quase consumada, com a vítima de roupa esfarrapada.
Não sendo moralista idiota nem querendo pôr em causa qualquer tipo de "estudo científico", diria que este caso tem semelhanças com o primeiro. Vivemos na era da pornografia de Estado: tudo é validado, até nem deixa de ser curioso que Daniela Tobar seja estudante da Universidade Católica do Chile.
Estes dois aspectos devem também suscitar reflexão: é verdade que o Estado não pode sancionar tudo o que entender, quando os propósitos do que se faz não são absolutamente claros. Imaginem o que se diria se o Estado Português financiasse "programas científicos" desta natureza. Bem, às tantas já não se diria nada. Que dizer do silêncio da Igreja Católica chilena a respeito deste assunto? Todos temos responsabilidades e é preciso por isso cuidado: a certa altura perdemos o pé e já não sabemos se estamos perante o maior vanguardismo ou a última patacoada de que uns chefes se lembraram.
O facto é que neste caso o Ministério da Educação do Chile se lembrou desta forma de "acção educativa de massas." O sucesso, avaliando pelo impacto, foi enorme. Os docentes, pelo menos por uma vez, não foram repreendidos nem serão avaliados, o que é sempre bom sinal.

Maria Gabriel Cruz,
docente da UTAD