Escrevem-se "chavões"! Dizem-se "lugares comuns"! É inevitável, até porque, lamentavelmente, para alguns os lugares, por falta de vivências, não são tão comuns assim. E viver não é a simples consequência de ter nascido. É agir, crescendo permanentemente. Toda a gente tem conhecimento da tragédia recente que assolou Moçambique. É preciso que todas as pessoas tenham consciência de que não assistiram a um filme que acabou. Não é aceitável que tenham voltado para o maior ou menor conforto das suas casas apenas com a curiosidade de saber qual é a sala de cinema que lhes vai proporcionar o próximo espectáculo! E se um dia vierem a ser eles próprios os actores principais? Querem receber o dinheiro dos bilhetes, ou querem o que lhes é realmente devido? Apelar é lembrar os distraídos; não é pedir caridadezinhas. Essas, que as guarde quem as pede, porque delas necessita! Neste momento estou a pensar em Moçambique, mas também em Angola, na Etiópia. E digo "neste momento" porque, no tempo todo, penso em incontáveis casos de povos que sofrem dramaticamente o facto de lhes serem negadas as condições mínimas de dignidade para serem pessoas de pleno direito. Porventura, por ser professora, as imagens que me roubam o sono ou o povoam de pesadelos inquietantes, são as das crianças, a preto e branco, bem mais preto do que branco. É duro, é violento demais! As marcas são da guerra, são das calamidades naturais (naturais?), da fome, da doença, da desumanização para que, afinal, nos empurram e, tantas vezes nos deixamos empurrar. É hora de passar das constatações às concretizações. Com isto não pretendo, de forma alguma, ter descoberto a pólvora (salvo seja!). Sempre foi postura nossa não nos ficarmos pelas palavras escritas ou ditas. Uma intervenção de um dirigente do nosso sindicato no último congresso do SPN alertou-me para uma forma, em que não tinha pensado, de cooperar com Moçambique, isto é, viver com Moçambique. A belíssima ideia era a de construir, com fundações sólidas e paredes anti-sismo, geminações entre Escolas portuguesas e Escolas moçambicanas. No sémen e no útero que conceberam e alojaram os futuros gémeos há componentes comuns, sendo a sua intersecção bem mais extensa do que as que já deram origem a placas coloridas, às vezes folclóricas, à entrada de povoações onde estão apostos nomes "em estrangeiro". Amigos, Moçambique não é "estrangeiro". Vamos pensar no assunto! Iracema Santos Clara Escola E.B. 2/3 Dr. Pires de Lima / Porto
|