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Encontro para um Coffee Break com Gabriela Poças

"Apesar dos professores os alunos aprendem"

O Coffee Break, desta vez, fez-se à hora do jantar. A sugestão foi dada pela própria convidada, Gabriela Poças, de 24 anos, professora estagiária de filosofia. Gabriela, nos seus tempos de aluna, frequentava o liceu onde agora dá aulas, e onde alguns dos seus colegas de trabalho foram seus professores... " é engraçado esbarrar-me nos corredores do liceu com a minha professora de português do complementar e esta ainda me reconhecer, apesar de ter sido sua aluna há uns quatro anos atrás! " Agora também ela ensina, " gosto de ensinar, mas gostaria mais de investigar na área em que estou, mas a faculdade para onde eu fui não me daria, de forma alguma, a oportunidade de fazer uma carreira a nível científico. A via científica na faculdade de letras acaba por ser uma escapatória para quem não quer dar aulas... deveria ser levada mais a sério. Apesar de ter mais prazer a imaginar-me como rato de biblioteca, a carreira da docência está a ser muito positiva a certos níveis; tenho bons alunos, boas turmas e um bom ambiente de trabalho. " Feliz com o trabalho que faz diariamente, Gabriela fala-nos sobre os seus alunos e do seu método de ensinar filosofia, " disciplina que para muitos deles não passa de uma coisa do outro mundo, de algo paranormal ou heremético, e é-lhes gratificante ficarem a saber que afinal não é nada disso. Dentro das minhas aulas procuro dar uma margem de crítica aos alunos, para que estes adquiram um espírito crítico e consequente da sociedade em que vivem, e é bom ver três ou quatro alunos, já quando a aula terminou, pedirem a minha opinião sobre um livro que estão a ler e depois descutirmos sobre isso. Por mais ingénua que seja uma opinião é óbviaente permitida. O meu dever é orientá-los para que essa opinião seja bem fundamentada e o mais rigorosa possível.
Tenho alunos que já tentam aplicar aquilo que aprendem dentro da sala de aula nas conversas com os amigos. Para além de começarem a assumir esse espírito crítico bem fundamentado, ganharam gosto pelas coisas que aprenderam e utilizam-nas. Nisto tudo conta muito o lado humano do professor. Tento mostrar que as coisas não são assim tão abstractas, que tudo tem um fundo real, tento contar como tudo evoluíu históricamente para que eles se sintam situados e par não pensarem que Platão foi aquele tipo do sec.xx que inventou a bomba atómica."
Profissionalmente, tem alguma dificuldade em imaginar o seu futuro. " Custa-me ser desenraízada. Não me agrada nda a ideia de dar aulas numa cidade que não conheço, provávelmente saíria para fazer outra coisa, mas para ser professora não. Andar de terra em terra não passa de uma ideia romântica, mas o romântismo não enche os bolsos a ninguém! Não é definitivamente o meu objectivo."
O sistema de ensino ainda não lhe levantou grandes problemas, mas defende, não uma ruptura completa, "...mas acho que há muitas coisas que precisam de ser limadas ao nível do ensino secundário. Não sou uma completa apologista do sistema de ensino por várias razões, mas tabém não sou fanática ao ponto de dizer que está tudo mal e que a culpa é do ministério. Muitas vezes a culpa é dos próprio professores que não sabem ensinar."
O Coffee Break tinha chegado ao fim, mas Gabriela não parecia ter terminado. Na sua cabeça a conversa ainda continuava. Os seus olhos ficaram imóveis como quem pensava no que tinha dito, e num repente, para concluír disse " apesar dos professores os alunos aprendem"....e o gravador desligou.


  
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Edição:

N.º 89
Ano 9, Março 2000

Autoria:

Gabriela Poças

Gabriela Poças

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