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Entrar em Medicina Pela Alta Competição

Ser atleta de alta competição ou ter sido, pelo menos no 10º e 11º anos, é meio caminho andado para entrar num curso de Medicina. Para isso, basta ter uma média de dez valores e estão contornados todos os problemas relacionados com as médias altíssimas «exigidas» para se entrar neste curso. Pouco interessa a modalidade, se continua ou não a praticar durante o curso, ou mesmo a prestação do atleta nas provas.
O estratagema já foi descoberto e, perante as facilidades, há cada vez mais «atletas de alta competição» e têm surgido nas áreas mais diversas que não as tradicionais modalidades de futebol, basquetebol andebol e hóquei em patins. Por exemplo, este ano, entraram na Universidade de Coimbra atletas de xadrez, remo, patinagem e judo, entre outros.
O presidente do Conselho Directivo da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, Pinto Machado, considera que se está perante um tratamento «discriminatório pela positiva», que é «claramente inconstitucional» e o seu homólogo da Universidade de Lisboa, Martins e Silva acrescenta tratar-se de uma «excepção que não se compreende e que deveria ser abolida». Há quem tenha, no entanto, uma opinião menos radical, é o caso da presidente do Conselho Directivo do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, Corália Vicente, que considera que também se deveria exigir uma nota mínima para os atletas de alta competição, ainda que fosse inferior à dos que entram através do contingente normal.
Consciente deste problema, o secretário de Estado do Ensino Superior, José Reis, considera ser necessário «reflectir» sobre o assunto e sobre todas as outras situações que «causem uma distorção», o que implicará, por exemplo, «qualificar muito bem o que é alta competição» para evitar que se verifiquem situações de grande injustiça.

Ordem quer novas regras

A Ordem dos Médicos avançou com uma proposta para resolver o problema da entrada nos cursos de Medicina. A ideia é definir uma nota mínima, que deverá ser fixada entre os 14 e os 16 valores, permitindo que os alunos que tenham esta média realizem um teste objectivo nas faculdades.
Este exame , que terá uma componente essencialmente escolar, podendo ainda integrar aspectos culturais e humanos, seria quantificável e permitiria, segundo o bastonário dos Médicos, «evitar desigualdades e situações escandalosas como a compra de notas, o compadrio e a ida de estudantes para Espanha». Ao mesmo tempo, este teste eliminaria a subjectividade de uma nota, que pode ter diferentes expressões na Universidade de Coimbra e do Porto, por exemplo.
Ao que tudo indica, esta medida vai de encontro à proposta que a Comissão Nacional de Acesso ao Ensino Superior (CNAES) - encarregue pelos ministérios da Educação e da Saúde de mudar as regras de acesso a Medicina ? vai apresentar ao Grupo de Missão para a Saúde, nomeado em Conselho de Ministros e presidido por Alberto Amaral.

Luísa Melo
Jornalista do Diário de Notícias


  
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Edição:

N.º 87
Ano 8, Janeiro 2000

Autoria:

Luísa Melo
Jornalista
Luísa Melo
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