Há um País chamado assim - País Feliz. Nesse País tudo o que é bom acontece. O povo vive na doçura de uma existência mansa, dorme com as janelas abertas porque é saudável e o clima a isso convida. Nesse País todos têm direito a tudo - os criados têm criados que têm criados, assim sucessivamente até ao infinito. O Povo gosta de rugby. Vibra intensamente com esse desporto, grita em inglês o seu amor pelo rugby. Conhecedores dessa paixão, todos resolveram organizar um torneio mundial de rugby, gastando para tal 800 milhões de contos e construindo 20 arenas (?) próprias para o efeito. O povo, mal soube da decisão - correspondente a uma grande vitória - veio para as ruas saudar a feliz ideia do País Feliz. Coisas terão de ficar por fazer mas não faz mal. As gentes estão bem e é isso que conta. Dizem os maus que nesse País há gente que dorme nas ruas, há gente que se droga, há quem não tenha casa, que 30 mil professores estão no desemprego, mas esses ditos não se devem dizer porque são infelizes e o País Feliz não está para ouvir cantilenas bárbaras. Quando se realizar o tal torneio, aí é que vai ser: vão chegar ao País Feliz mais 2 turistas que o habitual, as auto-estradas esticarão e encherão o espaço como se fossem feitas de chiclete. Problema é que continua o País Feliz a não ter comboios, mas lamentos não enchem barriga. Discursos miserabilistas não são bons. Tudo a falar de "celular" e bota prá frente, o que conta é o torneio de "reibi" e as suas bolas-de-melão. Bom mesmo será se o torneio tiver como vencedora a selecção do País Feliz. Suprema felicidade nesse imenso País-Continente, no qual a população se concentra toda cada vez mais num litoral abarrotado. O que vale é que quem pensa não dorme e pensando nisso mandou fazer as arenas todas no litoral povoado. O Povo, esse, tem cada vez mais razões para estar Feliz! Com tal decisão não há quem não possa ver o grandioso torneio. Maria Gabriel Cruz UTAD/ Vila Real
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