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Mulheres em Timor Loro Sae

"As mulheres vítimas de violentações e outros abusos sexuais em Timor Leste, vivem geralmente em comunidades pobres e isoladas, não tendo assim acesso a advogados independentes ou a organizações de direitos humanos. Este facto não as torna apenas mais vulneráveis às violações dos direitos humanos, mas também significa que quando os seus direitos são violados elas se encontram numa posição que dificilmente lhes permite denunciar a situação e procurar actuação judicial.
Estas mulheres experimentam uma sensação de vergonha em relação a si próprias e às suas famílias."
(em "relatório do Centro dos Direitos Humanos de Timor Leste"- Nov. 97)

Folheando a unidade didáctica que a Profedições publicou recentemente e que aborda questões de género "Pedagogia para a Igualdade - Uma escola não sexista", pensei que se continua a produzir um tipo de materiais que, a servirem de base a um trabalho cuidado nas escolas, poderão desenvolver actividades e posturas a caminho da escola dos valores.
Aceitando, mais, desejando que lhe sejam endereçadas críticas construtivas, bem como "formas " e "resultados" da sua aplicação, o grupo responsável pela organização da unidade já vai sonhando com a que há-de sair no ano dos 3 zeros.
E, estacionando sob placa de trânsito que convida à transgressão, dou comigo na página 3, com uma vista para a fotografia da 2 que lhe faz companhia, assim numa de livro aberto.
No conjunto dos números chamados mágicos, o "três" ocupa lugar destacado, até no mundo da fantasia dos contos de encantar. Os 3 zeros de 2000, o 3 da paginação, as 3 letras das últimas sílabas de Timor, de amor, de clamor...
Quedo-me então no índice e na imagem. Quanto a esta, a roupagem e a paisagem não rimam com Timor. O elenco (designações) das partes que constituem o trabalho serve, mas o conteúdo de algumas teria que adoptar forma diversa para servir Timor. Timor, agora!
As marcas do terror e violência na retina, na pele, na alma são de tal maneira fortes e presentes, que o conhecimento de direitos tem que ser construído com firmeza terna de quem sente o sentir diferente dos outros. Devagar, com segurança, com respeito pela cultura e pelos saberes que não se desejam apagados.
As mulheres e as raparigas de Timor têm de tomar conhecimento de que, ao longo das guerras da história, é comum (não natural) que a violência exercida pelos dominadores (não ganhadores) se exerce de forma particularmente degradante sobre a dignidade do ser feminino.
A esperança tem que pintar de claro o véu da vergonha, vergonha dos outros.
O corpo da timorense tem de cicatrizar as feridas com aquelas ervas macias e verdes em que a ilha é fértil.
A alma da timorense tem que lhe devolver o donaire que a lipa e a cabaia emprestam.
E os belos cabelos negros brilharão mais se voltarem a enfeitar-se com os "pregos" de guizos na ponta. E os braços farão música com as pulseiras, também elas instrumentos de som. Andar é bailar. Bailar é rir com o corpo!

Iracema Santos Clara
E. B. 2/3 Dr. Pires de Lima


  
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Edição:

N.º 85
Ano 8, Novembro 1999

Autoria:

Iracema Santos Clara
Escola E.B. 2/3 Dr. Pires de Lima, Porto
Iracema Santos Clara
Escola E.B. 2/3 Dr. Pires de Lima, Porto

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