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Inquérito do Mês

Perguntas

A população de Timor Leste foi chamada a decidir o seu futuro. Agora que os dados estão lançados, qual a opinião dos estudantes portugueses - que ao longo do processo demonstraram uma inequívoca solidariedade para com esta causa - acerca de todo o processo e das expectativas nele encerradas?

P1 - Como classifica o papel de Portugal ao longo de todo o processo?
P2 - Considera que existam interesses para além da causa humanitária?
P3 - Na sua opinião, qual será o desfecho mais provável depois de conhecidos os resultados do referendo interno?

Respostas

Sérgio Amorim, 25 anos, estudante de arquitectura

R1 - Penso que globalmente tem sido coerente com aquilo que tem exigido no seio das Nações Unidas. Por outro lado, tem de certa forma tentado "limpar" a imagem que deixou em Timor nos anos setenta.
R2 - Em princípio haverá sempre um conjunto de interesses por trás de todas estas negociações. Aliás, as coisas poderiam ter sido bem diferentes se não houvesse interesses por parte de países que têm estado ligados ao processo, nomeadamente os Estados Unidos da América, e outras potências daquela região, como a Austrália.
R3 - Acho que as atrocidades que se têm cometido são próprias de um período de transição. Há pessoas que tiraram partido do facto de a Indonésia ter sido uma potência dominante e que agora estão a ser, de certo modo, "julgadas" por causa disso. Neste contexto é natural que haja facções que tentem lutar pelo poder. Mas ao certo não sei o que se irá passar. Esperemos que corra tudo pelo melhor.

Anabela Gonçalves, 23 anos, estudante de história

R1 - Portugal tem tido um papel pouco pressionante. O governo português tem utilizado muito o discurso em detrimento de um papel prático na questão de Timor. Portugal apela, Portugal conversa, mas não sai da cepa torta. Se Portugal tivesse um papel mais activo concerteza que já teria resolvido a situaçãomais cedo.
R2 - Não sei se existem, mas a existirem Portugal não parece estar a demonstrar força de pressão suficiente para os concretizar.
R3 - Penso que as pessoas vão continuar a lutar e a matar-se entre si. As milícias pró-indonésias não aceitam os acordos que têm sido propostos e querem deliberadamente escravizar o povo timorense. Pincipalmente, acho que não há união quanto baste entre o povo timorense para acabar com aquele conflito. As forças de intervenção das Nações Unidas estão presentes no território, mas elas própria estão a ser corridas à pedrada.

Joana Aroso, 19 anos, estudante de direito

R1 - Acho que teve um papel ligeiramente passivo. Acho que devia ter feito mais considerando o papel que teve na história de Timor Leste, nomeadamente exercendo mais pressão a nível internacional e no seio das Nações Unidas.
R2 - A nível económico penso que poderá haver interesses futuros, mas não acho que neste momento estejamos a demonstrar isso.
R3 - Para já ainda não se sabe quem irá ganhar, mas a ganharem os independentistas corre-se o sério risco de uma guerra civil. Esse risco talvez diminua no caso de os apoiantes da autonomia saírem vitoriosos.


José Albino Lima, 26 anos, licenciado em psicologia

R1 - Apesar dos altos e baixos da nossa diplomacia, Portugal tem feito algum esforço para levantar a questão a nível internacional e recentemente tem feito diligências junto das Nações Unidas para uma participação de pendor mais militar, nomeadamente através da inclusão dos capacetes azuis na segurança do território. Mas a relação de forças nesta situação é complicada, porque Portugal, por muito que queira, não tem a o mesmo poder de negociação dos Estados Unidos, da França ou da Inglaterra. Mas no mínimo tem tentado reunir parcerias no sentido de tentar resolver a questão.
R2 - Nunca sabemos ao certo quais as intenções dos governantes, mas é bem provável que os interesses petrolíferos tenham um peso importante. Por outro lado, penso que existe um interesse declarado de tentar salvar a face pela forma como saímos de Timor Leste.
R3 - Depende muito da evolução política que se registar na Indonésia. Neste momento não se sabe ao certo quem detém as rédeas do poder: as eleições foram ganhas pela Megawati Sukarno Putri, tanto quanto sei, mas não se sabe se é o poder político ou o militar que neste momento controla o país. O estatuto que alguns militares foram adquirindo ao longo dos últimos anos não ajuda nada ao equilíbrio nesta relação de forças. Acho é que Portugal e os timorenses devem continuar com todo este esforço no sentido da sua auto-determinação.

Rui Moreira, 24 anos, estudante de ciências da educação

R1 - Portugal deveria ter tido um papel mais interveniente, visto que na altura em que devia ter tomado uma posição mais firma não tomou. Ou se tomou foi insignificante. Por essa razão, acho que neste momento devia ter um papel mais activo.
R2 - É preciso ver que a transformação política ocorrida na Indonésia ajudou bastante este governo. Mas penso que sim, que existe um certo interesse por trás desta pressão. Não propriamente por parte do governo português, mas de grupos de pressão que estão interessados em investir em Timor Leste caso este venha a tornar-se independente.
R3 - Os acordos estabelecidos entre as duas facções rivais não têm passado de negociações fictícias. Considero, no entanto, que tem havido um maior esforço por parte dos dirigentes da Fretilin no sentido de a situação evoluir no melhor sentido. Creio que é uma questão difícil de resolver porque existem determinantes culturais. Há uma população de timorenses com uma cultura bastante próxima da Indonésia e existe, inevitavelmente, um choque de culturas. Mas se os timorenses andaram todos estes anos a lutar pela independência e têm agora oportunidade de a concretizar, penso que não a devem desperdiçar. Acima de tudo penso que o processo acabará por ter um bom desfecho.


  
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Edição:

N.º 83
Ano 8, Setembro 1999

Autoria:

Redacção

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