Consta, com selo branco da secção consular de Portugal em Havana, e data de 23 de Janeiro de 1957, que a mãe dela, chamante e portuguesa devidamente inscrita naquela repartição diplomática, se obrigou a prestar-lhe alimentos e a prover à repatriação dela, caso necessário... Diz Aurélio Francos Lauredo, autor/intermediário do livro agora publicado pela Profedições, que ela é a última emigrante portuguesa em La Havana (Cuba). Diz Miguel Barnet, poeta cubano e autor do prólogo desta Carta de Chamada, ele que conheceu Cassiano, um português, "(...) lleno de salitre // el ultimo remero de la bahia" que ela também é da gente que vive e ama e sonha, "gentes de siempre que vivem de algo // que no ocorre (...)". Ela chama-se Maria Cândida dos Santos e regressou, há dias, a Valdanta, Chaves, para rever, 42 anos depois de ter emigrado, com apenas 13 anos, pai e irmão que tinha deixado na terra... O pai, Domingos dos Santos Chaves, de 80 anos, ao vê-la, chamou de "Ruiva", como antes costumava chamá-la. O irmão chorou como se fosse ainda, o menino que ela deixara. Ela levava na mão um livro, precisamente a Carta de Chamada, um testemunho de uma vida "forjada contra ventos e marés"... Um livro, escrito na primeira pessoa, que se lê de um trago e com uma lágrima ao canto do olho. João Rita
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