Com este número entramos no oitavo ano de publicação. Nestes oito anos já acumulamos um volume de material de reflexão que justifica o esforço de colocar à disposição dos nossos leitores tal arquivo. Eis um dos desafios de "a Página" para o ano que agora começa. Um desafio que talvez possa também ser entendido como parte do agradecimento a todos quantos, em 1998, contribuíram para continuar este jornal. Por falar em 1998. Não vale a pena teimar que 2000 é que é o último ano do século e do milénio. A pressa de chegar ao século XXI está a promover a antecipação. 1999 será assim o ano dos balanços, do século e do milénio. Preparemo-nos para ver como se vão vender promessas, desejos e medos. Entretanto lembremos que, em 1998, alguma comunicação, agora globalizada, esteve sentada à roda da fogueira, ou melhor, à volta da gaita do Bill. Sabíamos, da História, como uma mulher inteligente podia alterar os rumos do mundo. Em 1998, ficámos a saber como uma jovem mulher, não particularmente inteligente, pode também influenciar o mundo. E recordamos como é perigoso viver-se dependente da hegemonia de um país. Estamos na barbárie da globalização. As mulheres, os homens e o tempo encarregar-se-ão de nos explicar que a globalização não deve ser construída de cima para baixo e de fora para dentro. Mas deve ser construída de baixo par cima e de dentro para fora. Isto também depende de nós. "De cada um segundo as suas capacidades a cada um segundo as suas necessidades". Não nego os direitos do Bill. As suas capacidades e necessidades podem dar para governar a América - isso é problema dos americanos. Não dão é para governar o mundo - esse é um problema nosso. Outro problema nosso é o do lixo. É o tema da ordem do dia. O lixo, essa coisa suja e perigosa, anda por aí, há muitos anos, a dar cabo das nossas vidas. Poucos ou nenhuns se incomodaram com tal ameaça. É interessante que a coisa só tenha interesse, e direito a directo em telejornal, no momento em que alguém decide por alguma ordem na desordem total e completa. Não sendo um especialista na matéria fico abismado com as alternativas. Pelos vistos o melhor é deixar tudo como estava, ou seja, sem nenhum controle. Se a solução é uma incineradora "de raiz" digam onde a colocar. Mostrem-me as vantagens e os inconvenientes. Esclareçam-me. Nesta área, reduzir tudo a propaganda partidária é uma estupidez imperdoável. A questão do ambiente é mesmo uma questão séria. Toca-nos a todos. Eis um bom tema para a agenda de 1999 dos professores e das escolas. Sobre a matéria é preciso obter o máximo de informação possível. É preciso promover a discussão desta questão. É importante que cada professor e cada aluno tenha uma informação séria e rigorosa sobre esta matéria. Como é importante saber quais os direitos de participação dos cidadãos nestas e outras matérias. Esta é uma questão de presente e de futuro. Bem gostaria que a agenda de 1999 contemplasse também o tema da mudança...Tem sido questão constante em "a Página". Sobre esta matéria, tenho defendido, de várias maneiras, que os actuais sistemas de ensino não são reformáveis e que é necessária a sua reinvenção. Isto porque continuamos a pensar a mudança, e a resolução de problemas, no quadro do que temos. Depois das falhadas reformas globais, vieram as que atacavam pontos essenciais do sistema e agora entrámos no que parece ser a reforma permanente. Já não há uma política para o sistema educativo. Existem e coexistem muitas seitas. Muita gente criativa. Muita coisa gira. Muitas ideias. Imensas soluções. A política parece ser a de experimentar tudo. Não há uma estrutura que dê coerência às "inovações". Experimenta-se tudo. O sistema não tem bandeira. Cada grupo de trabalho transporta a sua. A política do ministério é um espectáculo. Uma passagem de modelos pedagógicos. Um concurso de ideias. Neste tactear experimentalista ganham todos. Só perdem os alunos e professores. Experimente-se fazer a lista das experiências/exigências lançadas nas escolas. É enorme. Tanta contradição assusta o experimentalista mais destemido. Mas a política experimentalista está para dar e durar. Vem aí a "gestão flexível dos currículos", a autonomia das escolas, a autonomia da profissão... Sabemos que todas as coisas têm um lado positivo... Podemos é nem ter tempo para o descobrir. Nem tempo para ensinar... Mudança que parece ser a sério é essa do Euro Mas sobre isto gostaria de ter mais respostas. O euro não foi inventado para que "a Página" possa, em breve, publicar os vencimentos dos professores da União Europeia. Em Euros, claro. José Paulo Serralheiro
|