Se o prémio Nobel da Literatura fosse uma broa de mel, o José Saramago nem o provava". Quem o diz é o Bruxo Leante, indignado com a esfomeada fauna que, de súbito, passou a rodear o escritor para o possuir "à tort et à travers" "Até o Diário de Notícias", diz o Bruxo, "que o manteve num index mais de vinte anos, quer agora mandá-lo retratar para a galeria dos notáveis daquele jornal de referência". É obra, alguém repisou. "É óleo", respondeu o Bruxo Leante. Para o Bruxo, que sempre foi um fiel leitor de Saramago, aquela oleosa bajulação é atitude ainda mais grosseira do que as dos jornalistas quando lhe perguntam o que vai fazer com os cento e tal mil contos do prémio. O Bruxo Leante não poupa ninguém. Despreza olimpicamente o senhor Duarte Nuno, a quem sempre trata como "regente agrícola que queria ser regente do reino", mesmo quando este diz o que disse contra a escolha da Academia Sueca, ignora as hostilidades do jornal do Vaticano contra o "comunista inveterado", mas não perdoa quando ouve elogios da boca de quem já o vilipendiou. É a Grândola na boca de patifes e pedreiros, diz o Bruxo Leante, citando um verso de Orlando de Carvalho ("Por Sítios Sismos Signos Clandestinos") e voltando a dizer que o Saramago devia pôr toda essa gente na linha, enquanto pode dizer o quiser e lhe apetecer. "Ainda se vai ver o José Saramago em Mafra, a descerrar, na Escola Secundária, uma lápide com o nome dele (antes proscrito), ao lado do senhor ministro da Educação, sua excelência o senhor professsor doutor Marçal Grilo que também é, certamente, um grande admirador do laureado", diz o Bruxo Leante. "Conheci alguém - acrescenta o Bruxo - que desceu aos Infernos e ouviu o Diabo dizer que o caldeirão onde cozem os portugueses é o mais fácil de vigiar, pois são os próprios companheiros a inviabilizar a eventual tentativa de fuga de um mais afoito". Para o Bruxo Leante, que chorou de alegria quando soube da atribuição do prémio, o Saramago também merecia o Nobel da Paciência. João Rita
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