A nova disciplina Desenvolvimento Pessoal e Social, já com existência legal e concretização (definição) um pouco no mundo do virtual permite, porventura, especulações que, tendo o seu cariz académico, se localizam, no entanto, preferencialmente em universo mais pragmático. Quanto a uma vertente, que as há com omnipresença cativa, que privilegia a Educação Sexual na escola portuguesa, parece pacífico dever não constituir uma disciplina autónoma, mas um caminho a explorar nos programas curriculares que, natural e saudavelmente, permitam educar sem tabus anacrónicos e desenquadrados das vivências reais. Esconder ou escamotear é o que de pior se pode fazer na educação que só é válida se for continuada, ajustada e contemplando a qualidade designada por "ao longo da vida". Seria ilógico e perigoso contrariar evidências! Mas passemos à especulação, que é terreno onde se por um lado se fomentam angústias, suscita contrapartidas que até alimentam o ego de quem a exercita. O D.P.S. é, afinal, tudo! Lá estão competências, atitudes e práticas que interligam a cognição, a compreensão, a avaliação, a análise e a síntese e (por que não ?) a emoção. Tem sido dito que a intenção, no actual Sistema Educativo em aparente mudança mas que carece de reformas revolucionárias, não é a de formar experts na matéria em dedicação exclusiva. Porém, necessariamente, a polivalência exigida mas nem sempre estimulada dos professores, não dispensa formação adequada. O regente de D.P.S. (a meu ver, bem) não deixará de ser o professor da(s) disciplina(s) para que possui formação académica acreditada. Qual será o melhor critério de recrutamento? Já li coisas a este respeito, de apreciáveis estilo e forma. Os conteúdos esses, são tão vagamente expressos, se bem que ninguém queira nem deva precisar de uma cartilha, que poderão conduzir a defeituosos processos, eventualmente assentes em informação sem ilações negociadas e, pior ainda, com deformação de mentalidades. Que pilar/instrumento tem de assegurar a eficácia e a oportunidade, no espaço e nos conteúdos, para o efectivo sucesso de D.P.S.? Naturalmente que uma estrutura matricial proposta pela tutela não é dispensável, antes é um dever dos responsáveis a nível do poder central e um direito dos mais directamente implicados no processo. No entanto e apesar disso, é no terreno que se definem os objectivos específicos. Assim, responderia à pergunta lançada que quem governa é a Autonomia e, também neste caso, por via de um Projecto Educativo que mereça a designação. Os professores de D.P.S. terão que possuir uma visão abrangente e clara dos interesses pessoais e dos da comunidade em que se inserem, não a desligando das diversas realidades regionais, nacionais e do Mundo na sua globalidade espelhada em vitral de colorido imenso com peças soldadas por maçarico de viva chama. Não posso admitir que os habitualmente chamados "professores de Moral", especialmente por também o serem de Religião, que me perdoem certas sensibilidades menos apuradas e mais radicais, devam encabeçar o elenco dos escolhidos. Sublinho o artigo definido que apliquei no número plural, isto é, em dimensão universal. Naturalmente que um partitivo eliminaria a negação pura que fiz. Mas não há esses artigos explícitos na língua portuguesa e não é por isso que perde nobreza! Então quem serão os "chamados" e quem serão os "escolhidos"? Partindo do princípio de que todo o professor, por o ser, pertence ao primeiro conjunto, esperemos que o subconjunto a que se alude se constitua por aqueles que resultem de legislação negociada por si (preferencialmente através das organizações que os representam) e pelo legislador, num clima de responsabilização mútua e de troca de meios para levar a cabo a tarefa. Mas, de modo nenhum, esta tarefa emprestará aos actores a qualificação habitual de tarefeiros. A missão será dignificante, pelo que terá de ser gratificante. Estamos atentos! Outubro de 1998 Iracema Santos Clara
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