Jogando com a qualificação 'racional', apetece atirar para o papel coisas como: razão, raciocínio, ratio, quociente, comparação, números personificados, pessoas quantificadas ... Que bonito é jogar! Que perigoso é ser jogado! Quando se mede o êxito ou o fracasso no mundo, no país, na vizinhança, dentro da casa de cada um (singular ou colectivo), menciona-se, menos como causa e mais como culpa, o sucesso escolar. Há valores, sublinhe-se valores, que são incomensuráveis em relação a outros, isto é, não é qualquer unidade (referência) que serve para que a apreciação resulte racional. A medida traduz-se, até numericamente, por um irracional. Naturalmente que a observação anterior leva a que se adivinhe que 'êxito', 'fracasso', 'sucesso escolar' são precedidos de um certo, sendo que este, embora determinante, é muitas vezes astutamente encoberto. Será, porventura interessante determo-nos um pouco na leitura de alguns resultados do Terceiro Estudo de Matemática e Ciências (TIMSS ñ Third International Math and Sciences Study). Apesar de, à partida, parecer que o território é relativamente exíguo pelo que poderá não gerar conclusões/projecções significativas, não será tanto assim, na perspectiva de que qualquer tipo de conhecimento não tem existência eficaz se fechado em si mesmo e separado das competências e atitudes que o modelam. ' ...Os resultados internacionais poderão ser agrupados em quatro grandes blocos. No primeiro e segundo blocos temos os países do extremo oriente (Singapura, Coreia, Japão e Hong-Kong) e alguns países do Leste Europeu (República Checa, Eslováquia, Eslovénia e Bulgária); o terceiro bloco é constituído pelos outros países europeus e ainda pelos Estados Unidos, Canadá, Austrália e Nova Zelândia, encontrando-se no último bloco os países da América Latina, África e Médio oriente. Entre os países europeus, Portugal ocupa a última posição nos resultados em matemática seguido dos países do último bloco. Os resultados obtidos pelos alunos portugueses em ciências são, no entanto, melhores do que os obtidos pela Dinamarca, Lituânia e Bélgica (fr). ... ... Os cerca de meio milhão de alunos testados consideram razoável o seu desempenho em Matemática e Ciências sendo, no entanto, os alunos dos países com melhores resultados os que se revelam menos confiantes em relação ao seu sucesso (Japão, Coreia e Hong-Kong). ... ...Os resultados obtidos em cada país também se mostram fortemente correlacionados com o meio sócio cultural (determinado a partir das habilitações dos pais, do número de livros existentes em casa, entre outros aspectos.... ... O que é esperado que os alunos aprendam é, em cada país, definido de acordo com as políticas educativas, a organização do sistema educativo e os aspectos culturais. A organização dos planos curriculares, os conteúdos, os objectivos da aprendizagem e os processos de avaliação enunciam os resultados esperados por cada sistema educativo. Um estudo comparativo sobre aqueles implicaria a análise de documentos tais como orientações da política educativa, currículos, programas, manuais escolares, planificações de ensino e orientações para a avaliação....' Que chaves utilizar para que a porta do sucesso debite um maior caudal? Certamente que a chave mestra é o sistema educativo, moldada em bons instrumentos de avaliação e regulação e mergulhada em banho de contexto sócio/cultural. Para ajudar a reflexão, mais duas citações: 'É consensual que a matemática é objectiva e universal, indo para além das nações e das diferenças de culturas ... no entanto, os alunos conhecem a matemática escolar e esta é, como tudo em educação, profundamente cultural' in 'Many visions, many Aims' 'O currículo é a formulação reflexiva da experiência que guia as práticas necessárias para desenvolver as capacidades científicas nos alunos' John Dewey Quando teremos taxas que nos façam sorrir ... sem rugas?
Iracema Santos Clara Junho de 1998
|