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Pais e Professores - em rota de colisão ou em rota paralalela?

Os pais e os professores partilham responsabilidades na criação de uma relação de trabalho que abrace a aprendizagem e a socialização da criança. Prevenir e resolver diferenças entre pais, professores e crianças através de uma comunicação construtiva, respeito e uma boa dose de humor, podem ajudar a fazer da escola um lugar mais agradável. O presente artigo foca o contexto cultural nas relações pais-professores, sugere algumas estratégias para ajudar à criação de um ambiente em que os mal-entendidos e as discordâncias entre eles possam ser minimizados através da comunicação, discutindo também alguns princípios gerais para lidar com as diferenças de opinião, sempre que estas surjam. É importante os pais e os professores lembrarem-se que conhecem a criança em contextos diferentes e que cada parte pode desconhecer por completo a criança no papel oposto. Para muitos pais um dos principais papéis da paternidade é a defesa do filho perante o professor e a escola. Outros poderão demonstrar-se relutantes em expressar as suas preocupações por causa de questões culturais em que se relaciona o professor com uma figura de autoridade. Outros ainda terão dificuldade em falar directamente com os professores, muito por resultado de memórias dos seus tempos de escola, ou mostrarem-se inseguros quanto à forma de expressar as suas preocupações. Apesar de poucos, alguns receiam mesmo que as perguntas ou a crítica possam colocar o seu filho numa posição de desvantagem em relação a outros alunos. Mas muitos pais ficariam surpreendidos se soubessem que também alguns professores, especialmente os mais jovens, se mostram igualmente apreensivos quando se encontram com os encarregados de educação, talvez pela maioria não ter recebido qualquer formação ou prática para enfrentar este tipo de relacionamento.

Evitar os conflitos

Convém recordar que as bases para uma boa relação entre pais e professores fundamentam-se numa comunicação aberta e frequente e que tanto uns como outros partilham a responsabilidade de criar essas bases. Existem diversas estratégias que os professores podem usar para estabelecer um ambiente conducente a uma comunicação aberta. Podem, por exemplo, avisar os pais de como e quando podem entrar em contacto com a escola, explicando que podem ser encontrados de uma determinada forma e num horário específico ou ser contactados directamente sempre que surja alguma questão ou preocupação mais urgente. Paralelamente à interacção pessoal, os professores utilizam muitas vezes as cartas como meio de comunicarem informações aos pais, onde poderão incluir o número de telefone, ou, se possível, fazer uso do correio electrónico. O importante é praticar uma política de porta e espírito abertos. Os professores podem convidar os pais a conhecer a turma em alturas que se revelem mais convenientes aos encarregados de educação. Quando o fazem, os pais podem aperceber-se das percepções dos filhos perante determinadas situações e compreender o que o professor tenta conseguir do trabalho com os alunos. No início de cada ano lectivo, algumas escolas organizam encontros entre encarregados de educação e professores para discutir o novo ano escolar. Nestas ocasiões, os professores podem pedir aos pais para partilharem as suas principais motivações e as metas que, enquanto encarregados de educação, pretendem ver atingidas. Questionários simples de auscultação e análise desses interesses constituem boas bases para debates construtivos. Os professores podem fazer com que os pais se sintam úteis ao pedir a sua assistência em actividades específicas. Quanto mais envolvidos os pais se encontrarem na vida da turma, mais facilmente compreenderão os objectivos e as práticas do professor. Os pais poderão desempenhar um importante papel na criação de uma comunicação aberta entre eles mesmos e os professores, dando-lhes a conhecer as alturas mais indicadas para serem
contactados, (dia ou noite) e de que forma preferem ser contactados (telefone, carta, EMail, etc...). Se os pais não puderem oferecer-se para acompanhar passeios ou visitas de estudo, poderão avisar o professor que estão interessados em participar de outras maneiras em outras actividades pontuais (aos fins-de-semana, por exemplo). Podem igualmente referir que estão dispostos a 'emprestar' algum do seu conhecimento ou habilidade em determinada área, mesmo que não saibam muito bem como aplicá-los na sala de aula. Ou ainda que, devido a circunstâncias especiais (um familiar doente ou um emprego particularmente exigente), e mesmo não podendo participar formalmente em actividades da escola, se encontram interessados em ir tomando conhecimento do percurso do educando através de comunicações escritas regulares, e não apenas quando possam surgir problemas.

enfrentar as discordâncias

Naquelas inevitáveis ocasiões em que pais e educadores discordam acerca do conteúdo ou programa curricular, tarefas, trabalhos de casa ou abordagens de ensino, a comunicação aberta poderá ter um papel decisivo na resolução de diferenças. Mas lidar com discordâncias directas requere também respeito e discrição de ambas as partes. Em alturas como estas, os professores devem conhecer a posição oficial da escola no que diz respeito à resolução de conflitos ou desentedimentos com os encarregados de educação. A discrição quanto à altura e ao local onde são abordadas questões relacionadas com os alunos e suas famílias é uma regra básica. É importante não discutir questões deste carácter com terceiros ou em lugares públicos e situações sociais, ou fazer comentários acerca de uma determinada criança com outros encarregados de educação, que não os próprios pais. Só desta maneira é possível manter a relação de confiança entre pais e professores. Os desentendimentos entre ambos devem ser discutidos com base no conhecimento dos factos. A melhor abordagem para a resolução de qualquer conflito passa, antes de tudo, por expôr o problema directamente ao professor antes de o comunicar a outro órgão ou elemento responsável da escola. Por vezes, o professor desconhece as dificuldades de percepção da criança perante uma dada situação ou esta não compreende com clareza as intenções do professor quanto a certas regras ou tarefas. Por estas razões, é importante tomar conhecimento dos factos junto do professor antes de precipitar conclusões ou atribuir culpas. Criticar os professores e a escola frente a crianças pode fazer-lhes confusão. Não é raro elas atribuirem ao professor qualidades de 'herói', julgarem que ele mora na escola ou não pensarem senão nele. É muito provável que a crítica excessiva possa originar ideias confusas em crianças de pouca idade e dividi-las perante uma posição de dupla 'lealdade'. Além de causar confusão e conflito, criticar o professor à frente delas não ajuda em nada e, no caso de crianças mais velhas, tais críticas podem dar origem a atitudes de arrogância, desafio e rudeza para com o professor. Os pais devem lembrar-se também que o final do dia não será, provavelmente, a altura mais adequada para trocar argumentos. Se existe necessidade de uma conversa mais prolongada o melhor será combinar um encontro com o professor. À medida que crescem, as crianças apercebem-se quando os pais têm alguma razão de queixa em relação a um professor ou à escola. Ao discutirem problemas desta natureza com os filhos, eles poderão estar a moldar formas de expressar a frustração com os problemas da vida em grupos definidos. Ao observarem estas atitudes, elas copiam-na e usam-na como uma 'ferramenta' em futuras experiências da vida.

Fonte: Lilian G. Katz /UNESCO.html">UNESCO.html">UNESCO


  
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Edição:

N.º 64
Ano 7, Janeiro 1998

Autoria:

UNESCO

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