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O Envolvimento Paterno - algumas reflexões

Pais, educadores, investigadores e decisores políticos clamam pelos valores positivos da ligação casa-escola. Este enfoque sobre o envolvimento dos pais no contexto escolar surge numa altura em que os programas para a infância se destinam cada vez mais a crianças de agregados familiares mono-parentais, famílias recombinadas, famílias constituídas por parentes próximos, lares adoptivos e uma panóplia de outras situações. Um dos grandes desafios postos aos profissionais que trabalham em serviços de apoio familiar no contexto da infância é a restruturação das políticas programáticas e das práticas destinadas a aumentar o envolvimento dos pais, de forma a que estas reflictam as novas realidades das estruturas familiares, modos de vida e características étnicas. Este esforço é crucial, já que um número crescente de sistemas escolares públicos avançam, a nível local, com uma oferta de programas pré-escolares para crianças economicamente desfavorecidas e em situações de risco.

A participação dos pais na infância da criança

Uma importante estratégia neste domínio - frequentemente negligenciada, porém -, passa pelo envolvimento do pai ou outros elementos masculinos de papel determinante. A noção de que todos os pais com baixos rendimentos e em situações de risco negligenciam as crianças é um mito posto a nu no desenvolvimento de programas nesta área. Num recente estudo baseado num programa para crianças de risco em idade pré-escolar, por exemplo, chegou-se à conclusão que, apesar da elevada percentagem de famílias mono- parentais servidas pelo programa, a maioria das mães inquiridas afirmaram que os filhos tinham uma interacção regular e consistente com um pai ou outra figura masculina. Num outro estudo sobre famílias de baixos rendimentos, concluiu-se que um homem está presente em aproximadamente sessenta por cento das famílias cobertas pelo programa de apoio (o pai, o namorado da mãe ou outro elemento masculino). Um outro estudo provou ainda que a maioria dos pais e elementos do pessoal envolvidos num outro programa com características similares consideraram que deveria ser dada mais enfâse ao envolvimento dos pais. Os mitos e os estereótipos sobre homens com baixos rendimentos e integrados em agregados familiares de risco tiveram um impacto negativo substancial nas políticas relativas a programas para famílias desfavorecidas. Estas políticas geralmente identificam os 'pais' como objecto das acções, mas a implementação dos programas desincentiva a participação dos homens no que se refere ao envolvimento dos pais nas actividades.

Envolvendo os pais

Apesar do crescente incentivo para envolvimento dos pais na escolaridade das crianças e as contribuições positivas que os homens podem trazer ao desenvolvimento dos seus filhos, existem, no entanto, alguns obstáculos que precisam de ser vencidos para esse envolvimento se revelar bem sucedido. Quatro factores poderão estar na origem deste constrangimento: o receio dos pais se revelarem inadequados, a ambivalência dos técnicos dos programas quanto ao grau de envolvimento dos pais, uma guarida apertada por parte das mães e a inadequação dos programas em termos de concepção e aplicação. Os educadores de infância precisam de saber argumentar as razões específicas para o desenvolvimento destas iniciativas, perguntando-se porque motivos consideram estes esforços importantes e de que forma poderão melhorar os serviços prestados às crianças e às suas famílias. Defender o envolvimento masculino apenas porque é o tema do 'momento', poderá esmorecer esses esforços numa altura em que outro grande assunto emergir.
Claro que nem toda a gente aderirá a este conceito. A fraca participação do homem e a falta de comportamentos ditos 'responsáveis' por parte destes, são muitas vezes apontados como factores para um futuro insucesso na escola. Por esta razão, muitas pessoas se questionarão sobre a razão dos recursos se aplicarem a homens vistos como a causa primária de problemas relacionados com as crianças. Esta resistência poderá advir de mães, professores, administradores escolares e líderes comunitários. Dado o apoio destes grupos ser fundamental para o sucesso das iniciativas destinadas aos pais, os educadores precisarão de convicção no desenvolvimento de tais iniciativas, articulando-se com esses elementos de forma a ganhar o seu apoio. Os educadores necessitarão de ser específicos quanto aos destinatários destas iniciativas. Os estudos indicam que as crianças de meios desfavorecidos nem sempre baseiam as suas relações com o pai biológico. Concentrar os esforços apenas nestes pais excluirá um grande número de homens que desempenham papéis primordiais nas vidas destas crianças. A função do educador será identificar qual a importância que eles exercem na vida das crianças e determinar ou não a sua inclusão no projecto. A maioria dos educadores recebeu pouca ou nenhuma formação específica na área da participação dos pais. E isto é especialmente verdade na área do envolvimento masculino em programas para a infância. Se a meta é o sucesso, então os professores precisarão de maior apoio técnico e de experiências práticas de serviço que lhes permitam desenvolver um conhecimento de base para implementar iniciativas deste carácter. Apesar de ser desejável a existência de elementos do sexo masculino na condução destas iniciativas, tais expectativas nem sempre se concretizarão dada a maioria de profissionais neste sector serem mulheres. Elas poderão ser bem sucedidas nesta tarefas, mas devem apreendê-las e construi-las com base nas contribuições que o homem poderá trazer para a relação familiar, tendo de revelar sensibilidade quanto à forma pela qual homens e mulheres abordam questões como os papéis da paternidade e a interacção com crianças pequenas. As mães devem participar nestes esforços desde o início, devendo ser-lhes explicado o porquê dos recursos serem postos à disposição destas iniciativas e de que maneira elas e os filhos beneficiarão. O suporte e o envolvimento das mães ajuda, de forma determinante, a assegurar o sucesso das iniciativas. Como em qualquer outra iniciativa, os educadores de infância devem proceder aos seus esforços de forma gradual. A chave do sucesso poderá estar na criação de um ambiente amigável que facilite uma cultura de implicação no programa. Construir uma tal atitude, no entanto, é um processo longo e os educadores não deverão ter demasiadas expectativas a curto prazo, pelo que deverão avançar devagar e ir construindo vitórias. A resolução bem sucedida destas abordagens nos programas para a infância sustentará, de forma sólida, o desenvolvimento e a implementação de iniciativas de participação de pais destinadas a homens. Através dessas iniciativas, eles poder-se-ão tornar recursos valiosos na procura dos educadores em construir uma relação casa-escola dirigida para o fortalecimento da união familiar, ajudando as crianças ao sucesso escolar.

Fonte: Thomas Rane / Brent McBride/UNESCO.html">UNESCO.html">UNESCO


  
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Edição:

N.º 64
Ano 7, Janeiro 1998

Autoria:

UNESCO

UNESCO

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