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No singular ou no plural continuamos únicos

Nos seus principais textos, Ricardo Vieira [Escola Superior de Educação e Ciências Sociais, Leiria] estuda identidades pessoais e profissionais explorando os contactos de cultura e os efeitos nos agentes sociais através da comunicação intercultural e da educação intercultural [2009]. Faz-nos refletir sobre a vida de cada indivíduo, considerando os fatores internos e externos ao crescimento e estabilização que influenciam as suas metamorfoses culturais [2009] e suscitando a premissa identidades em gerúndio como sendo a formação gradual, e dependente de diversos fatores, da identidade pessoal e coletiva.
Portugal é um país de chegada e partida, provado pela sua história marcada pelo fenómeno migratório em busca de bem-estar. Assim, transforma-se num território demarcado pela diversidade cultural, principalmente nas zonas urbanas mais industrializadas e com maior mercado, visto que, tendencialmente, existe maior oferta no mercado de trabalho [2011]. Estes indivíduos, deslocados territorialmente, acabam por enfrentar várias adversidades inerentes à necessidade de interação social, inclusive o próprio constrangimento da afirmação cultural.
As histórias de vida não são retilíneas e estão em constante mutação, devido à experimentação e abertura a novas aprendizagens. A cada um cabe a sua própria construção identitária (individual e intransmissível), na medida em que “a pessoa nunca é apenas passado (...) é presente e é projeto” [2009].

Identificar-se e ser identificado. Assim, podem distinguir-se os indivíduos quanto ao que sentem em relação à cultura de partida ou de chegada, ou até ao conflito entre as duas, visto que “a interação social dá origem a renovação de atitudes e de formas de expressão cultural” [2013], provocando as diferentes trajetórias sociais, transformações e metamorfoses resultado do processo de aprendizagem a que o indivíduo é sujeito.
Esta construção, desconstrução e/ou reconstrução da identidade [2011] do indivíduo depende tanto do nível de enraizamento do espaço de origem como do reconhecimento dele próprio como interveniente na comunidade e sociedade de destino. Porém, ele tem tanto que se identificar como ser identificado. E talvez seja aqui que reside a questão de voltar ou não voltar. Vieira [2013] anuncia que todos nós acabamos por ser influenciados por estas migrações, dando lugar às próprias transformações no seio das sociedades, nas comunidades e, por sua vez, no ser como individual. Isto, sob o ponto de vista de que somos “eus” coletivos que existem, coexistem e interagem.
As escolhas e associações são nossas, sendo que o valor das “coisas” é dado consoante os nossos próprios significantes e significados. Por conseguinte, cada indivíduo é isolada e coletivamente único, independentemente da sua metamorfose e mestiçagem. A diferença reside em como se identifica e é identificado, e o resultado nunca é estático nem imutável.

Maria Moura

Instituto Politécnico de Leiria, Escola Superior de Educação e Ciências Sociais

Referências

2009. Identidades pessoais: interações, campos de possibilidade e metamorfoses culturais (ed. Colibri)

2011. Educação e Diversidade Cultural: Notas de Antropologia da Educação (ed. Afrontamento)

2013. Partir Chegar Voltar... Reconfigurações Identitárias de Brasileiros em Portugal (ed. Afrontamento)


  
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Edição:

Edição N.º 202, série II
Inverno 2013

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