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Mudança de paradigma

Não precisamos de (mais) gente com cabeça de tijolo! Não temos de preparar para o mercado de trabalho. Temos de mudar de vida, e para isso temos de pensar.

No dia 10 de novembro de 2012, o Jornal de Notícias escreveu: “Murtosa: Toneladas de peixe atiradas ao lixo. (...) Os homens da xávega, impedidos, pelas quotas, de vender ou dar carapau pequeno, deitam-no ao lixo”. É este um dos traços do atual paradigma sociopolítico-económico que dirige o planeta. O pescado vem diminuindo em todo o mundo, mas, por vezes, em países onde “cerca de 10 mil crianças chegam às escolas com fome todos os dias”, caso de Portugal, deita-se ao lixo peixe em bom estado por problemas de quotas.
Num planeta dominado por gente sem rosto que constitui o capital financeiro internacional, o Partido Comunista da China, dirigido por uma elite proveniente da que já é, ou será, a maior cidade do mundo, Chongqing, agora com 32 milhões de habitantes, esse mesmo partido vai repartindo o poder com os poderosos de todos os dinheiros. É caso para criar um novo provérbio chinês: todos os dinheiros são bons.
Chongqing terá mais de 50 milhões de habitantes, se prevalecer o mando atual na China, terá o tamanho da Áustria, será atravessável por via férrea em cerca de meia hora.
A China não consegue alimentar os seus habitantes. Na China fuzilam-se pessoas cujos órgãos serão revendidos a doentes ocidentais (segundo reportagem da BBC). Mas tudo bem, porque na China fazem-se negócios da China. Isto é, ou mudamos de paradigma, de vida, ou a Natureza muda-se e vamo-nos embora. Quando a engenheira Merkel vem a Portugal, ninguém deve protestar!
Porquê? O PSD, o PS, ou o CDS estão de acordo com a globalização da miséria, tornada modelo único, dado adquirido e impossível de alterar. Os outros partidos também não devem protestar. Contra quem protesta o Bloco de Esquerda, que tem dentro de si uma corrente maoista? Alguma vez criticou a sinização do planeta? E o Partido Comunista Português? Não continua a convidar o Partido Comunista Chinês para a festa do Avante?
“Cada chinês que vês é um português que não nasceu”, disse um dia Ernâni Lopes. Agora poderemos vir a acrescentar: “cada chinês que vês é um português que emigrou”. É verdade que estas palavras são duras, mas é assim, não de outra forma, que as mudanças se têm dado. Isto tem uma enorme (porventura estranha) ligação com a Educação. A Educação não prepara para o mercado de trabalho, atiram especialistas. Enquanto uns iluminados continuarem no remanso de bons salários e belas mansões a escrever sobre os BRICS – sigla belíssima, brick quer dizer tijolo, em Inglês, mas é Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, algo que não tem sentido nenhum, sendo apenas uma das caraterísticas da vacuidade das análises globais reinantes –, os professores devem continuar o seu trabalho.
Não precisamos nem temos de criar escravos, gente acéfala, aquela que os empregadores querem. Não precisamos de (mais) gente com cabeça de tijolo!
Não temos de preparar para o mercado de trabalho. Temos de mudar de vida, e para isso temos de pensar.

Carlos Mota


  
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Edição:

Edição N.º 199, série II
Inverno 2012

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