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O menino dos botões

Quero dedicar este livro à melhor professora do mundo.
A minha. Um grande beijinho, daqui até à lua…

Era uma vez em menino chamado Diogo. Tinha uns olhos cor de amêndoa e um sorriso lindo, porque também sorria com os olhos. E umas bochechas que davam vontade de apertar. Era bom aluno, muito aplicado, atento e inteligente. Tinha muitos amigos e gostava imenso de andar na escola. Tinha a melhor professora do mundo, segundo ele dizia. E era grande a amizade e admiração por ela. Vivia com a família, que ele tanto amava: uns pais maravilhosos e o irmão. Também tinha avós. Convivia imenso com o avô Zé, o defensor de algumas traquinices do Diogo. Companheiros até de algumas brincadeiras. Nesses bons momentos o avô chamava-o:

– Meu capitão!
Até batiam a continência. Certo dia o avô teve de fazer uma viagem, aquela viagem que não tem volta, e é tão triste a despedida. Mas uns dias antes deu-lhe um casaco. Um casaco com muitos botões, igual ao de um capitão, e disse-lhe:
– Toma este casaco. Acho que te vai ficar bem. Mas tem muito cuidado porque ele tem os botões mágicos.
O Diogo guardou o casaco com todo o carinho. E ficou a pensar:
– Tem os botões mágicos!
Mas não fez perguntas, pensou que seria daquelas brincadeiras que costumavam ter, ou daquelas histórias que às vezes o avô se lembrava de contar, que iam da fantasia até à brincadeira. Guardou o casaco e outros objectos que lembravam o avô. E quando sentia saudades ia rever as coisas guardadas. Um dia resolveu vestir o casaco e levá-lo para a escola. E realmente até se sentia um capitão!
Esteve sempre na aula com o casaco vestido e até a professora o elogiou. Disse-lhe que tinha um casaco muito bonito e lhe ficava muito bem. Na hora do recreio como era costume depois de lanchar, iam todos brincar, jogar à bola, à apanhada, etc.
Como o Diogo era um menino muito astuto reparou num colega que estava mais afastado e triste. Foi logo perguntar-lhe porque se tinha afastado e estava ali sozinho.
Então o menino contou-lhe que não tinha trazido lanche. Os seus pais nem tinham dinheiro para comprar comida.
O Diogo não esperava por essa resposta e foi tanta a sua revolta, o seu desespero, que agarrou com tanta força um dos botões do casaco e o arrancou. E por magia, nessa mesma hora a professora chamou e disse que tinha um lanche muito especial para todos os meninos, e que a partir desse dia os meninos não levavam mais lanche de casa, todos iam ter lanche e almoço na escola.
O Diogo nem queria acreditar no que tinha ouvido e continuava a segurar o botão na mão com todas as suas forças.
Resolveu oferecê-lo ao seu amigo. E disse-lhe: – Leva este botão para casa e guarda-o como se fosse um tesouro.
O menino não fez perguntas e até gostou do botão. E assim fez, levou-o consigo. Quando chegou a casa teve uma fantástica notícia, o pai tinha arranjado trabalho!
Muitos dos seus problemas iam ser resolvidos. O pai voltando a trabalhar, iam ter comida, e não só!
No dia seguinte foi com muita alegria que deu a notícia aos colegas. O Diogo ficou muito contente, claro. E os dias foram passando e ele nunca mais se esqueceu deste episódio. Numa manhã, enquanto brincavam no recreio, o Diogo sempre atento a tudo e a todos reparou num menino a um canto a chorar. Pensou logo ir ter com ele. E se assim pensou, melhor o fez.
– Porque estás a chorar?
– Porque não tenho amigos. Queria tanto ter uma bola e não tenho nenhuma.
Queria tanto que brincassem comigo e ninguém quer, antes pelo contrário até me empurram e dizem para me afastar e ir embora. Por isso estou triste.
O Diogo ouviu com muita atenção. E tão indignado ficou e revoltado. Nesse dia tinha vestido o belo casaco que o avô lhe oferecera. E sem se dar conta estava a agarrar num dos botões e... zás, que o arrancou!
E imediatamente surgiu uma bola que caiu mesmo aos pés do seu amigo. Então surgiram mais colegas para brincar e outros que pediram se podiam brincar todos juntos.
Mais uma vez ficou o Diogo a segurar no botão estupefacto e fez o mesmo que da outra vez. Pediu ao amigo para guardar aquele botão como se duma pedra preciosa se tratasse. Ao que o amigo acedeu e foram todos brincar muito contentes para o recreio.
Certo dia recebeu uma notícia da tia Luísa, que estava muito doente. Foi com os pais visitá-la e viu a tia muito doente.
Só uma operação e uns tratamentos a poderiam salvar, pois era uma doença muito grave. Quando se despediram o Diogo abraçou a tia e tendo o seu famoso casaco vestido arrancou mais um botão e disse:
– Tia, guarda este botão sempre contigo.
Tens que ser forte, ter coragem e fé que te vais curar.
A tia ao princípio ficou admirada, mas até achou graça e ficou mais bem-disposta. E prometeu que faria tudo o que o menino lhe tinha pedido.
Assim foi, e passado algum tempo o Diogo foi tendo notícias da tia. Tinha sido operada, estava a restabelecer-se muito bem. Tinha ficado curada.
O Diogo começou a pensar nos botões do casaco, e nas palavras que o avô lhe tinha dito: que os botões eram mágicos!
Então pegou no casaco, arrancou todos os botões, foi oferecer um à mãe e disse-lhe:
– Mãe, guarda este botão com todo o cuidado como se fosse uma jóia. Não é um botão qualquer, é um botão especial.
Quero dar-to porque me deste a vida, porque estás sempre presente, porque me dás todo o teu carinho.
A mãe sorriu e disse que sim, que o guardaria na sua caixinha de jóias para sempre.
Quando o pai chegou abraçou-o e disse-lhe:
– Pai, tu que trabalhas tanto, fazes tantas viagens, conduzes um camião enorme...
Não podes estar aqui sempre comigo porque tens que trabalhar para que nada nos falte. Quero dar-te este botão. É muito especial. Guarda-o sempre contigo.
Restava-lhe só um botão. Podia ter ficado com ele, mas não o fez. Pensou:
– Quem me dera ter muitos botões como estes, iria dar um a cada um dos meus amigos, pois tenho tantos. Mas como não tenho mais botões vou dar-lhes sempre a minha amizade. Porque a amizade é um bem muito precioso.
No último dia de aulas fizeram uma grande festa como faziam sempre todos os anos. Todos se divertiram e quando se despediu da sua professora, tirou do bolso o último botão e disse:
– Professora, ofereço-lhe este botão. Não é um botão qualquer, é especial!
– Como gratidão da sua atenção. Como companheira neste quatro anos. Como amiga que foi. Por ter cuidado de mim, até quando estive doente às vezes. Por me ter ajudado a levantar quando caí.
Por ter enxugado as minhas lágrimas quando estava triste.
– Obrigado por ter-nos ensinado tanta coisa. E por ter contribuído por me tornar no rapazinho que agora sou.
– Ainda me lembro dos primeiros dias quando cheguei a esta escola, tão travesso, e tive que passar algumas aulas na carteira da professora. Mas adorei.
– Fui muito feliz nesta escola, onde tenho um grande tesouro que quero guardar para toda a vida: os meus amigos e a minha professora.
A professora sorriu e disse:
– Jamais vos esquecerei. Estarei sempre aqui, para vos dar um beijinho.
– Sejam felizes.

Nelson Diogo Ferreira Magalhães
* O autor tem 10 anos e concluiu o 1.º Ciclo do Ensino Básico em Junho de 2011, na EB J. Nicolau de Almeida (V.N. Gaia). O texto foi oferecido à professora sob a forma de caderno. Preso na espiral, levava um botão. Mágico?


  
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Edição:

Edição N.º 194, série II
Outono 2011

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