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netiquete: uma proposta de intervenção em grupo

O mais importante na utilização da internet não é a tecnologia ou o suporte informático, mas a reinvenção de valores educacionais, morais e éticos nos mundos virtuais.

Temos vindo a abordar a questão da literacia mediática, mais concretamente a área da educação para uma utilização saudável e equilibrada da internet. A profusão do acesso aos mundos virtuais por parte dos mais novos desequilibra a tradicional relação entre eles e os mais velhos. A inovação é tanta que, subitamente, a experiência e a sabedoria podem ter resultados contraproducentes: são os mais novos que conhecem as últimas novidades, dominando as tecnologias por dentro. Ao longo deste ano, temos vindo a desenvolver uma série de dinâmicas de grupo que tentam abordar a educação para a utilização equilibrada da internet. Quando as propusemos a alguns educadores, as reticências acabaram por ser visíveis com frases do género: “mas eu não sei nada da área” ou “eles sabem mais dessas coisas do que nós”. Postas as coisas assim, as frases acabam por ser verdadeiras: de facto, os mais novos apresentam uma mestria face às tecnologias que, frequentemente, ultrapassa a dos seus pais e até dos seus professores.
Será esta a forma mais correcta de encarar o problema? O mais importante na utilização da internet não é a tecnologia ou o suporte informático, mas sobretudo a reinvenção que bastantes valores educacionais, morais e éticos sofrem nos mundos virtuais. Ou seja, cabe ao educador ouvir e conhecer práticas no que diz respeito aos diversos suportes informáticos. Da mesma forma, será sua responsabilidade a promoção de reflexão crítica em relação às atitudes e comportamentos que os mais novos desenvolvem a propósito dos seus diversos interesses e percursos na internet. A título de exemplificação dos princípios que defendemos, vamos descrever uma simples dinâmica que denominámos Netiquete.
O termo nasceu on-line, para denominar uma série de regras de conduta que se desenvolveram entre utilizadores dos mundos virtuais. Há uma necessidade de evitar mal-entendidos e até de regular certos comportamentos e formas de escrever. Usámos o termo para descrever uma simples dinâmica de grupo. O dinamizador promove um diálogo inicial sobre as regras das interacções na internet: há normas de educação na internet? Deve lembrar ao grupo que vários jogos, chats e redes sociais não permitem insultos ou a utilização de palavrões. De seguida, divide a turma em pequenos grupos de trabalho que devem enumerar normas de conduta a ter na internet. Formar-se-á, assim, um código de conduta a observar. As normas devem incluir regras de comportamento educado, castigos, cuidados a ter em relação a amizades, nas conversas on-line e no género de informação pessoal que se poderá ou não colocar à disposição de todos.
Em termos de enriquecer a actividade, a cada grupo poderá ser atribuído um cenário diferente: uma rede social, um jogo on-line, um fórum, uma sala de chat ou um programa de troca de mensagens em tempo real. Poder-se-á, ainda, focar o tema dos cuidados a ter com o perfil, os nicks escolhidos, o tipo de investimentos na identidade virtual (mais próxima da realidade ou completamente fictícia).
Alcançamos, assim, um duplo objectivo: fazer um levantamento das práticas do grupo e dos suportes informáticos mais na moda num determinado momento e, ao mesmo tempo, focar a discussão nas escolhas e usos observados. Ao privilegiar estes temas, descobrimos que, afinal, os mais jovens são realmente jovens, procurando construir as suas identidades e escondendo as suas inseguranças num saber fazer informático que frequentemente as mascara.

Rui Tinoco


  
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Edição:

Edição N.º 191, série II
Inverno 2010

Autoria:

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