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E os encarregados de educação?

Com bom planeamento e atenção especial aos recursos disponíveis e aos contextos de aplicação, é possível delinear estratégias que possibilitem a integração dos encarregados de educação em programas de promoção de saúde.

Um dos elementos fundamentais da comunidade escolar para o sucesso de programas de promoção da saúde é o encarregado de educação. Os pais e restantes familiares são um dos mais importantes condicionantes e potenciadores de comportamentos salutogénicos. No entanto, os profissionais que se dedicam à saúde escolar reconhecem a dificuldade em cativar e trabalhar com os encarregados de educação de uma forma contínua. Para além das dificuldades da disponibilidade de tempo para deslocações propositadas à escola, existem também resistências e/ou medos (injustificados) relativos a críticas e/ou opiniões sobre as suas competências em parentalidade. Mais do que uma vez, já sublinhámos que uma palestra sobre uma ou mais temáticas em saúde poderá eventualmente aumentar os conhecimentos dos encarregados de educação em determinados assuntos e ser encarado como um recurso de Educação Para a Saúde em situações em que não é possível uma planificação de trabalho contínuo e não se pretende modificar comportamentos dos alunos/pais/famílias. No entanto, quando nos focalizamos na área da Saúde, em que situações se pretende transmitir apenas informação, sem serem esperadas consequências a nível dos comportamentos?
Na promoção da saúde, um modo de se trabalharem os comportamentos é a elaboração de um programa com uma série de sessões activo-participativas, em detrimento da metodologia expositiva. Isto pode gerar vários desafios.
Uma das barreiras será a assiduidade dos encarregados de educação a várias sessões.
Se em certos locais e/ou contextos (federações de associação de pais e associações de pais funcionais e activas) será mais fácil a organização de um grupo interessado, noutras situações esta constituição poderá ser mais problemática.
Por outro lado, a utilização de dinâmicas de grupo com adultos obriga a uma aceitação desta metodologia por parte dos encarregados de educação, devendo o dinamizador evitar abordagens quer evasivas, quer directivas. Uma forma de ultrapassar este obstáculo é trabalhar com as experiências e opiniões do grupo, criando um ambiente de anuência e confiança, com a finalidade de contrariar a possível sensação de vulnerabilidade que a exposição ao grupo implica. Esse tipo de metodologia será o gold standard. No entanto, caso não seja possível constituir um grupo assíduo e participativo, existem outras estratégias para envolver os encarregados de educação na promoção da saúde em meio escolar.
Uma estratégia é a realização de sessões nas quais se expõe como irá decorrer e/ou está a decorrer e/ou como decorreram os programas de promoção de saúde nos quais os seus educandos estão envolvidos. Se se considerar apropriado, algumas destas reuniões poderão ter apresentações dos próprios alunos, com o fim duplo de potenciar a comparência dos encarregados de educação e comprometer os alunos na “contaminação salutogénica” de conhecimentos e comportamentos apreendidos e/ou adoptados.
Outra forma de os encarregados de educação serem mais participativos será aliar tarefas familiares atractivas aos programas dirigidos aos alunos, dando aos alunos missões que terão de desenvolver em casa (ou noutro local) com os encarregados de educação.
Acreditamos que com um bom planeamento e uma atenção especial aos recursos disponíveis e aos diferentes contextos de aplicação é possível delinearem-se estratégias efectivas que possibilitem ter êxitos nesta missão (aparentemente) impossível: a integração dos encarregados de educação em programas de promoção de saúde.

Nuno Pereira de Sousa


  
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Edição:

Edição N.º 191, série II
Inverno 2010

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