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Os tortos adquiridos

Só tem direitos adquiridos quem já tem muito. Os banqueiros, por exemplo, que reclamam por menos Estado, querem que o Estado lhes dê dinheiro – e o Estado dá!

Quando se deveriam fazer esforços e alianças internacionais para tratar questões como as alterações climáticas, a segurança (em múltiplas vertentes) a energia ou os cuidados de saúde, dizem-nos que nada disso é importante, pois a integração entre economias trará a prosperidade, a paz, a abundância e eliminará os conflitos...
Quando se deviam partilhar recursos humanos e a propriedade intelectual, assiste-se ao assalto à Democracia e aos direitos individuais. Ninguém está preocupado se eu uso um anti-vírus que obtive na internet – nem sequer quem fabrica os anti-vírus! Mas, com esse pretexto, querem vigiar a internet, não para evitar que nos leiam o correio, mas antes para evitar que mais gente tenha acesso a documentários proibidos ou ignorados como “Zeitgeist”.
O que interessa é continuar o processo de fabrico até ao infinito, mais depressa, pior, mais barato em termos imediatos, mas também mais poluente, utilizador de trabalho escravo ou semi-escravo e de trabalho infantil. Interessa também que os consumidores “engulam” toda a montanha de lixo que lhes querem impor.
É falso que a globalização possa levar a Humanidade a algum lado a não ser ao seu próprio fim. Já há muito Thomas Malthus chamou a atenção para o “pormaior” que é o facto de o planeta não ser infinito; assim, o crescimento até ao infinito é um objectivo absurdo.
Nesta sociedade dirigida como um “Big Brother” global – não o imaginado por George Orwell, mas uma versão televisiva da vida privada em público (?) –, assistimos à educação do povo no sentido de que tudo se vende (sentimentos, actos de amor), aprendendo também o povo que os “outros” são “concorrentes” de um “jogo” no qual não há cooperação, antes, sempre e só, competição, sendo necessário eliminar os companheiros (“elos mais fracos”) para vencer. A televisão informa e “educa”.
É curioso notar que o inventor destes belos programas televisivos seja hoje uma das pessoas mais ricas da Holanda. É este o “espírito do tempo” – Zeitgeist, em Alemão.
Daniel Cohn-Bendit denunciou há meses [cfr. vídeo em www.youtube.com/watch?v=nqno8H-mjeY&feature=related] o que agora até o nosso «Expresso» diz, citando uma obra de um português.
Como foi possível que a Grécia, entre 2005-2009, tenha sido um dos cinco maiores importadores de armas da Europa, comprando aviões de combate à França, o que representou, por si só, 28% do volume das suas importações? E a indignada Alemanha terá vendido seis submarinos à Grécia! Grécia que mantém 100 mil homens em armas, com uma população de 11 milhões! A ameaça que a Turquia representa – será mesmo assim? – justifica o endividamento para compra de armamentos!
Para pagar estas “encomendas” foi imposto aos gregos o congelamento de salários e aposentações na função pública durante 5 anos, a retirada de dois meses de salário aos funcionários públicos; o tempo de serviço para se ter direito a uma aposentação será elevado de 37 para 40 anos em 2015 e o Estado grego reduzirá em 1,5 mil milhões de euros os seus gastos em Educação e Saúde!
Mais curioso é saber que a “grande ajuda financeira” prestada à Grécia, coincide com a dívida desse país à Alemanha e à França!
Direitos adquiridos? Quem? Você? A que propósito julga que os tem? Não tem nenhum! Não tem direito à saúde, à habitação, a serviços de qualquer tipo. Só quem já tem muito tem ”direitos adquiridos”: os banqueiros, por exemplo, que reclamam por menos Estado, querem que o Estado lhes dê dinheiro – e o Estado dá!
Ficou espantado? Não seja preguiçoso, ou importamos trabalhadores dóceis e baratos que o substituem! Você só tem, de adquirida, a insegurança: não é isso que lhe dizem o “Big Brother” ou o “Elo Mais Fraco”? Pode ser expulso, porte-se bem! Você, tal como quem nasce com um marcador genético, só tem “tortos adquiridos”. O “torto”, ensina-se nas faculdades, é o contrário do “direito”, mas a vida é assim…
Toda a Economia é Política. Veja o vídeo!

Carlos Mota


  
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Edição:

Edição N.º 191, série II
Inverno 2010

Autoria:

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