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Os professores continuam a estar na linha da frente

78 milhões de pessoas na União Europeia vivem em risco de pobreza, 19 milhões das quais são crianças. O grande objectivo do Ano Europeu é reafirmar, dando sequência às decisões da Agenda de Lisboa (2000), que o combate à pobreza e à exclusão social continua a ser um dos compromissos politicos chave da União Europeia e dos respectivos Estados-membros.

2010, Ano Europeu de Combate à Pobreza e Exclusão Social

 

A recuperação começa com os professores

Lema do Dia Mundial dos Professores 2010, IE/UNESCO

 

Em Portugal, o Dia Mundial dos Professores coincide com a data de celebração do aniversário da implantação da primeira República, há cem anos, a 5 de Outubro de 1910. Dando seguimento às preocupações que justificaram a opção por este eixo temático nas edições de 2010, a PÁGINA associou-se, este ano, a essa dupla celebração, promovendo, conjuntamente com a Direcção do Sindicato dos Professores do Norte e a editora ProfEdições, a realização de um colóquio subordinado ao tema “Educação e Res Publica” (2 de Outubro, no Conservatório de Música do Porto). Para o efeito, foram convidados oradores de reconhecido mérito académico, profissional e cívico, como Hernández Diaz, Manuel Loff, António Teodoro, Paulo Sucena e Mário Nogueira. Daremos conta desse promissor encontro na edição de Inverno, convictos de que a resposta aos actuais imperativos de cidadania, de educação e de profissionalidade docente passa pela valorização da educação na pluralidade das suas dimensões e que um desígnio desta natureza pede a consagração de compromissos políticos audaciosos e amplamente comparticipados.

A cidade, que é como quem diz a cidadania, é feita de pessoas e “a educação constrói a cidade”, como nota Antoní Martorell, um dos entrevistados desta edição e responsável do município de Barcelona com funções no âmbito do projecto das Cidades Educadoras. Ora, é justamente neste alinhamento de sentido que equacionamos os desafios de inteligibilidade e de acção gerados pelo diálogo crítico, plural e prospectivo sobre as várias experiências republicanas, nacionais e internacionais. Pensar hoje a relação entre educação e res publica significa reflectir sobre as condições de desenvolvimento humano no quadro de crise socio económica que configura a nossa contemporaneidade. E, nunca é de mais lembrar, as crianças – em cujos rostos brilha de um modo especial o sentido da humanidade comum – são as primeiras atingidas pelos cenários de privação, vulnerabilidade e sofrimento.

Comprometidos com a formação das novas gerações, os professores continuam a estar na linha da frente do cumprimento dessa missão de colocar a educação ao serviço das crianças, jovens e adultos de todas as idades, logo da res publica, mas na consciência de que este é um esforço que pede co-responsabilização e aposta pública, conforme preconizam a IE/UNESCO a propósito, precisamente, do Dia Mundial dos Professores. Recorde-se que este dia foi criado em 1994, com o objectivo de alertar e mobilizar as diversas comunidades para a necessidade de autorização pública dos seus professores, de modo a que estes possam, efectivamente, cumprir a sua missão com qualidade e dignidade pessoal e profissional.

Por esta razão, o Dia Mundial dos Professores deveria ser – tem de ser – um dia de celebração em contexto de república, isto é, um dia em que pais, alunos e cidadãos em geral, façam questão de homenagear os seus professores. Um dia em que os professores sejam alvo das manifestações de estima e respeito que tanto merecem e de que tanto carecem. Porque eles “dão rosto ao futuro”, porque “eles contam”, porque eles fazem a diferença, porque é com eles que, na verdade, começa o processo de revitalização social, económica e intelectual das nossas sociedades.

Investidos de uma autoridade pedagógica de reconhecida relevância e apoiados numa preparação profissional qualificada, os professores são agents privilegiados de mudança, como evidencia outra das nossas entrevistadas, a professora e investigadora Ariana Cosme. Uma mudança que, em rigor, começa no dever de memória para com todos aqueles que, directa ou indirectamente, afectaram pedagogicamente os nossos destinos.

Destacamos, neste sentido, duas personalidades de referência recentemente desaparecidos: José Saramago, aqui homenageado através da transcrição do seu admirável discurso de aceitação do prémio Nobel, e a escritora e professora de literatura infantil Matilde Rosa Araújo, neste caso, num tributo tornado possível pela generosa partilha de Luís Souta. Evocando momentos da sua história profissional como docente na rede pública (ao serviço do chamado “ensino de massas”), Matilde Rosa Araújo não hesita em testemunhar que todo o ensino é eficaz “quando é feito com amor, com condições de trabalho e em comunidade” e que “a escola é um lugar de convívio fundamental para as crianças” e, assim acreditamos, para todos nós. Porque, como refere a escritora, esse convívio é, afinal, o que nos permite alimentar o “deslumbramento de estar vivo e de ver as coisas sem mágoa, apesar de tudo”.

Em nome desse deslumbramento e com reforçado voto de confiança na missão pedagógica, a PÁGINA deseja a todos um excelente novo ano lectivo!

Isabel Baptista


  
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Edição:

Edição N.º 190, série II
Outono 2010

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