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Até à próxima Página

Até à próxima Página!... Foram estas as últimas palavras que trocamos contigo, Zé Paulo. E aqui estamos, cumprindo o prometido. Aqui estamos por tua causa. Por causa da tua teimosia, do teu sentido de militância criativa que te fazia pressentir caminhos insuspeitos no emaranhado dos dias que se constroem segundo a vontade e o dicionário dos tecnocratas de serviço.
Por isso, é que a «Página» se transformou num ponto de encontro iconoclasta e surpreendente. Um jornal que, mês após mês, aparecia nas nossas caixas do correio e nas bancas no dia em que se anunciava previamente que isso iria acontecerr. Um jornal que nos confortava, ao permitir que partilhássemos não só a esperança e os desafios, mas também as nossas dúvidas e igualmente a nossa ignorância. Um jornal cuja importância crescia à medida que a Escola vai sendo sujeita a um processo de instrumentalização acelerada e os discursos da eficácia e do pragmatismo redentor vão aprisionando a nossa possibilidade de reflectir sobre o mundo, as coisas e as pessoas. Um jornal plural e livre onde se pretendia que a cara condissesse com a careta, no momento em que encontrávamos nesse espaço, graficamente tão apelativo e cuidado, a preocupação de abordar a Educação em torno do Humano, como preocupação decisiva sem a qual não seremos capazes de sobreviver.
Hoje, o que é interessante é perceber que tu já havias percebido isto tudo há muito mais tempo do que a maior parte de nós. Não cremos que fosses apenas um homem inteligente. Eras um homem inteligente e reflectido, mas, sobretudo, eras um homem comprometido. Um homem para quem a mentira e o branqueamento da mentira não são as competências invisíveis de um portefólio a estimar. Um homem para quem as palavras não são, sobretudo, objectos a re-semantizar, mas instrumentos de comunicação a construir de forma árdua, através do reconhecimento que essas palavras só fazem sentido se formos capazes de entender os outros como interlocutores. Interlocutores indispensáveis para que possamos ser e ousar ser o que desejarmos ser, no âmbito de uma comunidade onde teremos que aceitar, sem subterfúgios, a possibilidade dos outros poderem partilhar um propósito idêntico.

Fazes-nos falta, apesar do teu legado. Fazes-nos falta, mas mesmo assim só nos resta dizer: Até à próxima Página, Zé Paulo!...   

 Ariana Cosme
Rui  Trindade


  
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Edição:

Edição N.º 186, série II
Outono 2009

Autoria:

Ariana Cosme
Fac. de Psicologia e Ciências da Educação, Univ. de Porto
Rui Trindade
Faculde de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto
Ariana Cosme
Fac. de Psicologia e Ciências da Educação, Univ. de Porto
Rui Trindade
Faculde de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto

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