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Os medíocres

Quando Winston Churchill, ainda muito jovem, acabou de proferir o seu discurso de estreia na Câmara dos Comuns, foi perguntar a um velho parlamentar, amigo de seu pai, o que tinha achado do seu primeiro desempenho naquela assembleia de "vedetas" políticas.
O velho pôs a mão no ombro de Churchill e disse, em tom paternal:
"Meu jovem, você cometeu um grande erro!... foi muito brilhante neste seu primeiro discurso na Casa. Isto é imperdoável... devia ter começado um pouco mais na sombra... devia ter gaguejado um pouco.... com a inteligência que demonstrou hoje, deve ter conquistado, no mínimo, uns trinta inimigos... O talento assusta"!
Ali estava uma das melhores lições de abismo que um velho sábio pôde dar ao pupilo que se iniciava numa carreira difícil. Isto, na Inglaterra. Imaginem aqui, em Portugal!
Não é demais lembrar o pensamento de Camilo em conversas no Atheneu:
"Há tantos burros a mandar em homens de inteligência, que, às vezes, fico a pensar que a burrice é uma ciência".
A maior parte das pessoas encasteladas em posições políticas é medíocre e tem um indisfarçável medo da inteligência.
Temos de admitir que, de um modo geral, os medíocres são mais obstinados na conquista de posições que pretendem assumir. Sabem ocupar os espaços vazios deixados pelos talentosos displicentes que não revelam o apetite do poder.
Mas, é preciso considerar que estes medíocres ladinos, oportunistas e ambiciosos, têm o hábito de salvaguardar as suas posições conquistadas com verdadeiras muralhas de granito por onde talentosos não conseguem passar.
Em todas as áreas encontramos destas fortalezas estabelecidas, as "panelinhas" do arrivismo, inexpugnáveis às legiões dos lúcidos.
Dentro deste raciocínio, que poderia ser uma extensão do "Elogio da Loucura", de Erasmo de Roterdão, somos forçados a admitir que uma pessoa precisa fingir de burra se quiser vencer na vida. É pecado fazer sombra a alguém até numa conversa social...
Assim como um grupo de senhoras bem casadas boicota, automaticamente, a entrada de uma jovem mulher bonita no seu círculo de convivência por medo de perder os seus maridos, também os encastelados medíocres se fecham como ostras, à simples aparição de um qualquer que os possa vir a ameaçar.
Eles conhecem bem as suas limitações, sabem como lhes custa desempenhar tarefas que os mais dotados realizam com uma perna às costas.
Enfim, na medida em que admiram a facilidade com que os mais lúcidos resolvem problemas, os medíocres repudiam-nos para se defenderem. É um paradoxo angustiante!
Infelizmente, temos de viver segundo essas regras absurdas que transformam a inteligência numa espécie de desvantagem perante a vida.
Como é sábio o velho conselho de Jackson katter:
- "Finge-te de idiota, e terás o céu e a terra"!
O problema é que os inteligentes gostam de brilhar! Nada melhor terminar este artigo dedicando aos meus amigos um conselho "Nada há de mais perigoso do que um amigo ignorante; Mais vale um sábio inimigo ".

Pedro Marinho


  
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Edição:

N.º 184
Ano 17, Dezembro 2008

Autoria:

Pedro Marinho
Aluno da Escola Superior Educação - Arcos de Valdevez
Pedro Marinho
Aluno da Escola Superior Educação - Arcos de Valdevez

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