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Uma escola, muitas trajetórias: o jogo democrático em questão

A escolha por construir uma escola-outra, cujo projeto político-pedagógico esteja amparado por princípios de liberdade e de reconhecimento da pluralidade social, não é uma decisão fácil, porque nos exige pensar nas relações que estabelecemos na diferença e nas atitudes que tomamos frente a ela.
O desenho curricular do Colégio de Aplicação Fernando Azevedo (CAp), situado em Cabo Frio, Rio de Janeiro/ Brasil caminha para a construção de espaços interativos e de diálogo que apontam para o reconhecimento do outro ? saber, fazer, existir ? que é múltiplo e complexo.
Ao situar o jogo político que atravessa as relações escolares, destaco a possibilidade da participação e decisão coletiva para um projeto emancipatório da escola. Oliveira (2005:28) destaca que, a construção da democracia implica em combater, com práticas reais, todas as formas de expressão do sistema de dominação social, (...) bem como todos os mecanismos de exercício de poder que subalternizem o outro. Nesse sentido, o CAp vem buscando formas de organização curricular que rompam com a hierarquia disciplinar e as conseqüências disso: privilégios de algumas disciplinas e professores, fragmentação do plano escolar, assim como o isolamento de grupos dentro da escola.
A todo o momento surgem questionamentos sobre as práticas de integração curricular da escola, tanto na comunidade, como nos próprios debates internos. As dúvidas e questões que surgem trazem um movimento reflexivo sobre a idéia de escola como unidade totalizante, possibilitando o reconhecimento de que os embates que emergem da trama cotidiana expressam as diferentes formas de conceber o currículo.
Entendo que lutar contra valores e crenças cristalizados na cultura escolar exige bem mais que determinação e desejo; é preciso reconhecer que os conflitos fazem parte do jogo democrático que faz movimentar a trajetória social de cada sujeito. A escola, dentro da sua dinâmica social, constrói maneiras coletivas de existência, algumas aprisionadas pela sua ação homogeneizadora, e outras, que resultam plurais e imprevisíveis. A compreensão dos espaços de subjetivação existentes na escola coloca-nos a pensar nas possibilidades de invenção criativa na diferença, onde possam eclodir expressões e práticas diversas daquelas previamente determinadas.
Recentemente (junho/08), o CAp recebeu, em dia letivo, a visita do educador português José Pacheco, que, ao conhecer o projeto pedagógico da escola, decidiu participar da sua rotina. Percorreu as salas de aula e observou a dinâmica do trabalho nelas realizada, trocou experiências com alunos, pais e professores. Foi um dia especial para a comunidade escolar, que percebeu a dimensão da responsabilidade que tem ao tentar dialogar com diferentes concepções e culturas no espaçotempo escolar.
Esta escola real, múltipla e complexa vive a sua história, repensando cotidianamente a cultura hegemônica na organização do currículo e permitindo que a rede tecida ali possua variadas cores e tessituras, em movimentos singulares e, ao mesmo tempo, fazendo parte de um mesmo processo.

Referências bibliográficas

  • OLIVEIRA, Inês Barbosa de (org). A democracia no cotidiano da escola. Rio de Janeiro: DP&A, 3ª ed. 2005.

Angela Chades


  
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Edição:

N.º 183
Ano 17, Novembro 2008

Autoria:

Angela Chades
Professora da Ferlagos e membro do grupo de pesquisa "Redes de conhecimentos e práticas emancipatórios no cotidiano escolar" na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
Angela Chades
Professora da Ferlagos e membro do grupo de pesquisa "Redes de conhecimentos e práticas emancipatórios no cotidiano escolar" na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

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