Computadores nas escolas não parece ser novidade; a boa novidade é que estes são portáteis e são propriedade dos alunos/as e isto pode ser uma excelente notícia para as crianças que frequentam o 1º Ciclo do Ensino Básico no Ensino Público e um passo importante no seu acesso às TIC (Tecnologias de Informação e Comunicação). Como consequência do desenvolvimento tecnológico, somos confrontados diariamente com novas modalidades de aprender e ensinar, que nos obrigam a reequacionar a forma como se trabalha na escola. Ao contrário dos adultos, neste contexto da apropriação de competências tecnológicas, as crianças e os jovens não estão preocupados com as TIC, nem com a Sociedade de Informação, nem em cumprir nenhum programa de aprendizagem específico, mas tão-somente em se exteriorizarem e em brincar. Neste sentido, o grande desafio que se coloca agora aos educadores/as é o de ajudar as crianças mais pequenas a usar efectivamente os computadores e o acesso à internet de forma criativa, para que possam adquirir competências tecnológicas que possibilitem ou ampliem o seu acesso ao conhecimento. Deixar as crianças explorar, e explorar com elas, não só com o intuito de ajudar, prever e controlar, mas também com a vontade de com elas aprender e descobrir o mundo virtual. Com o avanço tecnológico, deu-se neste início do século XXI uma grande mudança nas nossas vidas e o apelo deste avanço é a promessa de maior rapidez, poder, controlo, conhecimento, partilha, prazer e desenvolvimento. Um avanço que ? no que se refere à escola ? exige de todos nós, educadores/as, uma grande criatividade. Todas as pessoas são mais ou menos criativas e essa capacidade não está confinada a uma geração, idade ou grupo. Usar as TIC de forma criativa pressupõe combinar o nosso conhecimento com competências tecnológicas e inventar novas formas de os usar em favor dos objectivos de aprendizagem ou de ensino a que nos propomos. Isto implica estarmos abertos ao novo mundo que a tecnologia pode proporcionar e também compreendermos que a aventura do conhecimento não se confina ao espaço da sala de aula. De facto, o computador que está agora a chegar às crianças é um "brinquedo" interactivo que tomará a forma das suas actividades quotidianas. Para o usar a maior parte das crianças só precisava de o ter. Algum de nós imagina uma criança a ler um manual de instruções para fazer um documento Word ou jogar um jogo no computador? Os manuais destinam-se aos adultos e isso não acontece por acaso. As crianças, aliás muitas vezes criticadas por isso, não querem saber como funciona, querem fazer, querem usar e, para isso, não precisam de instruções. A exploração e a aprendizagem inter-pares pode, com a ajuda do "Magalhães", beneficiar a colaboração e partilha de informação no espaço educativo. Aliás, muitas vezes esta exploração não se limita ao trabalho ou jogo que estão a fazer; acabam por descobrir funções e usos inimagináveis para nós, adultos. Muitos adultos "precisam" de saber como é que as coisas funcionam. Mas, com a evolução da técnica, isso é cada vez mais difícil. Podemos tentar saber como funciona um candeeiro ou uma máquina de lavar (embora esta já seja mais complexa) mas, noutro tipo de tecnologia, este saber não é acessível à cultura científica comum. A diferença é que as crianças não querem saber, têm um uso meramente prático. Um adulto mais racional vê uma tecla diferente para cada função, um botão para cada coisa e quer saber qual deve utilizar. Contrariamente, face a um novo aparelho, as crianças ligam e começam, falham e tentam novamente, e vão acumulando conhecimentos com essa experiência descomplexada, vão penetrando de forma intuitiva na lógica desse novo mundo, "entendendo-se" assim com mais facilidade com os criadores dos equipamentos e do software, que os criam precisamente para poderem ser utilizados facilmente e poderem ser descobertos desta forma. Será precisamente por aqui que o "Magalhães" pode ajudar a dar a volta ao mundo da aprendizagem. Não sejamos nós, os mais velhos, a tentar formatar a relação que se vai estabelecer entre as crianças e o seu novo computador, à imagem da forma como nós nos relacionamos com os nossos. Há um mundo desconhecido para elas navegarem. Com a nossa ajuda, claro. Com os nossos conhecimentos e a nossa técnica, sem dúvida. Mas não com os mesmos horizontes que limitam as nossas paisagens. Os velhos do Restelo sabiam talvez navegar, mas nunca saíam da barra do Tejo.
Maria José Araújo
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