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Casal milionário condenado nos EUA por escravizar domésticas

Um relatório da Amnistia Internacional, publicado em Fevereiro, dava conta do mais cruel terror a que são submetidas mais de dois milhões de trabalhadoras domésticas indonésias no seu próprio país.
Neste relatório, são relatadas várias formas de violência a que estas trabalhadoras são submetidas. Estas mulheres, a trabalhar por conta de outras famílias, estão praticamente reduzidas à servidão. Retenção de salários, trabalho obrigatório até 22 horas diárias, agressões, violência sexual, enclausuramento forçado, são alguns dos muitos abusos a que estão sujeitas.
A maioria destas raparigas e mulheres começou a trabalhar muito cedo, aos 11 ou 12 anos, algumas antes desta idade.
Algumas destas trabalhadoras procuram escapar a esta situação de miséria e terror emigrando para outros países. Mas, muito frequentemente, espera-as apenas a continuação do terror. A violência sobre os mais pobres e os mais fracos não tem fronteiras.
Foi o que aconteceu, a título de exemplo, com duas destas trabalhadoras domésticas indonésias imigrantes nos Estados Unidos da America.
Um casal de milionários de origem indiana foi condenado à prisão, nos últimos dias de Junho passado, por um tribunal de Long Island, perto de Nova York, por escravizar e torturar as suas duas empregadas indonésias.
Mahender Sabhnani, de 51 anos, nascido na Índia, foi condenado a 3 anos e quatro meses de prisão, anunciou o juiz Arthur Spatt num tribunal de Central Islip, após a condenação, na véspera, da sua mulher, Varsha Sabhnani, a 11 anos de cadeia.
"É terrível que crimes deste tipo continuem a acontecer nas nossas comunidades no século XXI", disse o procurador Benton Cambell, após o anúncio da sentença.
Os Sabhnani, proprietários de uma empresa de venda de perfumes em Long Island, torturaram as duas mulheres, agredindo-as com pedaços de pau, queimando-as com água quente e obrigando-as a subir e descer escadas, ou a comer pimenta pura.
O casal, que usava essas técnicas como castigo para fazê-las trabalhar, negava-se a pagá-las directamente, limitando-se a enviar 100 dólares aos seus familiares na Indonésia.
A dona-de-casa recebeu uma pena muito superior à do marido, porque os procuradores insistiram em que era ela que abusava directamente das trabalhadoras. As empregadas, que não falam inglês, ficavam trancadas num sótão, ou na garagem da casa, quando os Sabhani recebiam convidados. Ambas chegaram aos EUA, em 2002, com um passaporte legal, que foi tomado pelos patrões. Desde então, o visto já expirou.
Em Maio de 2007, a polícia prendeu os Sabhnani, após encontrar uma das empregadas na rua, vestida apenas com uma peça de roupa interior e uma toalha. Oculta por detrás do direito à privacidade a violência doméstica, também contra quem trabalha para outros no espaço doméstico, continua a imperar.
O relatório da Amnistia Internacional dava voz, entre outras, a Ratna, uma destas jovens indonésias de 13 anos de idade: "Limpava a casa, cozinhava, varria e ocupava-me das crianças [...] todos os dias das cinco da manhã à meia-noite [...]. ela [a patroa] atirava-me com água a ferver quando se aborrecia [...] Só podia sair de casa para estender a roupa uma vez por semana [...]. Dormia na cozinha, sem colchão. Ela fechava-me todas as noites. Durante a noite não podia ir à casa de banho", contou, para que fiquemos a saber.

AFP


  
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Edição:

N.º 180
Ano 17, Julho 2008

Autoria:

AFP
Agence France-Presse
AFP
Agence France-Presse

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