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Liberdade

Quando se ri de mim, minha senhora, sentada na poltrona d'avenida, Vossa Excelência não sabe, nem pode saber, que a Liberdade é Vida! Sobretudo quem tem ousadia de ser tenente de Vossa Excelência, sem passar pelo crivo da docência no Ensino Básico ou Secundário? Aprendizagem, com a sabedoria da Humildade!...
Quando se riem de mim, Vossas Excelências não sabem, nem podem saber, que trabalho desde tenra idade, há 40 anos, com esforço, rigor e dedicação, sem raiar a perfeição mas de consciência limpa! Degrau a degrau, jovens, ao tempo, como eu: paquetes ? hoje chefes de secção ? e tantos chefes de família honestos, que almoçavam da marmita agruras de outros tempos!... Escriturários, ferramenteiros, aprendizes d'oficina, desenhadores e mestres? Mecânicos da roda dentada unida na diversidade, em que todos ? fortes e fracos ? soldavam pedaços de alma, estancando lágrimas em objectos de Arte!
Aprendi a trabalhar e a estudar ao mesmo tempo, escrevendo nos momentos livres, na ditadura e fugaz democracia: Património, Letras e Artes; Contabilidade, Programação Informática dos Estaleiros Navais; para leccionar, há 20 anos, Geografia, a menina dos meus olhos? Sem o chicote da burocracia em (de)formação contínua, que hoje escraviza a pessoa humana e retira dias sagrados aos meus tempos livres!
Com tanta reforma da autonomia, a paixão esmoreceu mas não morreu! Tanta burocracia, afinal, para quê?... Penalizar o incumpridor, escravizando a maioria que não merece? À custa da desautorização gratuita do Professor, perante a opinião pública de uma sociedade pouco esclarecida, medíocre, porque demissionária, culpada pelo sistema do insucesso e da indisciplina.
- Quando um jovem está na Net até às tantas, e vai às aulas sem dormir curtir MP4 como IPOD, sem o mínimo controle em casa e da sociedade? a culpa é do Professor?
- Quando um aluno estranho entra numa sala de aula ? vítima do jet-set a viajar no estrangeiro ou da família dolorosamente pobre e desagregada ? o Prof. impõe respeito dando ordem de saída e quase leve na cara? a culpa é do Aluno?
- Quando o papá ou a mamã da nova vaga?
Há muito que tenho ideias e projectos, mas não consigo, não tenho tempo, para concretizar páginas de Artes em Livro! A não ser reescrever alguma linha, presença possível nos espaços de Poesia da minha Escola!...
É urgente discernir sobre o devir da condição humana. Mudança cada vez mais acelerada, por avaliar, sem uma pausa, para respirar e reflectir? A Família está falida. A Ética, uma saudade. E a Escola?... É pau para toda a obra: suaviza a competitividade patológica, de tanta gente que só vê estatística ou quer entrar na Universidade; acarinha a Juventude abandonada à sorte da globalização injusta, sem rosto, sem alma, sem Norte, que mata o Ambiente e a mente humana!
Jovem, sê livre, mas consciente. Cultiva alguma voz esclarecida. A Liberdade é cara, exigente: pessoal (parte); responsável (arte); solidária. É urgente reinventar Abril, num tempo novo de Portugal! Viva a Liberdade!

Francisco José Carneiro Fernandes


  
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Edição:

N.º 179
Ano 17, Junho 2008

Autoria:

Francisco José Carneiro Fernandes
Professor de Geografia na Ancorensis. Publicista de Arte, Geografia Humana e Poesia
Francisco José Carneiro Fernandes
Professor de Geografia na Ancorensis. Publicista de Arte, Geografia Humana e Poesia

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