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FARC: a guerrilha colombiana que sobreviveu à guerra fria

As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia - Exército do Povo, mais conhecidas pelo acrónimo FARC, são uma organização criada em 27 de Maio de1964 como braço armado do Partido Comunista Colombiano. O governo colombiano de então mandou bombardear a chamada "República Independente de Marquetália". Esta tinha sido estabelecida por um grupo de camponeses, orientados pelo Partido Comunista, num planalto da cordilheira dos Andes.
Obrigados a fugir, 48 homens e mulheres, à frente dos quais estava Marulanda, constituíram uma defesa camponesa que se foi estendendo paulatinamente ao longo das zonas de colonização do leste da Colômbia.
Desde então, as FARC sobreviveram a 12 presidentes, entre eles Andrés Pastrana (1998-2002), que durante três anos tentou um processo de negociação com os rebeldes. As negociações pararam quando estes multiplicaram os sequestros de políticos para obrigar à troca por companheiros seus que se encontram presos.
A partir de meados dos anos oitenta, quando as FARC foram acusadas de se financiarem através do tráfico de drogas, o Partido Comunista rompeu com a organização. Esta criou então o chamado Partido Comunista Clandestino.
As FARC são consideradas por alguns, actualmente, como uma organização terrorista. Já, por exemplo, o presidente da Venezuela Hugo Chávez, em Janeiro de 2008, recomendou que o Governo Colombiano reconhecesse a guerrilha como uma «força beligerante», argumentando que ela estaria assim obrigada a renunciar ao sequestro e a actos de terror de modo a respeitar a Convenção de Genebra. Outros países como a Venezuela adoptaram o termo «insurgentes» e têm pressionado o governo colombiano no sentido de apostar em negociações que ponham termo a esta situação de violência que afecta a sociedade colombiana há mais de quatro décadas.
As FARC são particularmente censuradas, por organizações defensoras dos Direitos do Homem e da Criança, pelo facto de não hesitarem em recrutar crianças e adolescentes para fins militares e de não hesitarem em utilizar o tráfico de drogas como forma de se financiarem.
A história das Farc, a mais poderosa das organizações guerrilheiras que subsistem na América Latina, como herança da guerra fria, está estreitamente ligada à do seu comandante máximo Manuel Marulanda ("Tirofijo"), que teve a morte anunciada por Bogotá recentemente.
Com cerca de 17.000 pessoas em armas e 60 frentes, as FARC mantêm uma importante presença no sudeste da Colômbia, embora desde 2002, quando Álvaro Uribe chegou à presidência, prometendo a derrota militar dos rebeldes, eles tenham anunciado um "recuo táctico".
As FARC mantêm em seu poder pelo menos 39 reféns, entre eles a ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt (também com nacionalidade francesa) e três americanos, os quais propõem trocar por 500 rebeldes presos.
Depois da queda do muro de Berlim, em 1989, as principais guerrilhas colombianas como o M-19 (esquerda nacionalista) e o Exército Popular de Libertação (ex-maoísta), renunciaram às armas. Mas as FARC não se desmobilizaram alegando que subsistem condições de miséria que afectam quase metade dos colombianos.
A sua presença é particularmente forte em territórios da selva do sul e sudeste da Colômbia, que coincidem com as principais zonas de produção de cocaína, da qual - segundo Bogotá e Washington - os rebeldes obtêm parte do seu financiamento.

José Paulo Serralheiro


  
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Edição:

N.º 179
Ano 17, Junho 2008

Autoria:

José Paulo Serralheiro
Professor e Jornalista. Director do Jornal a Página da Educação.
José Paulo Serralheiro
Professor e Jornalista. Director do Jornal a Página da Educação.

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