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Meios digitais na escrita antropológica

Entre os media digitais usados na investigação e comunicação do saber antropológico uma das mais importantes é a publicação electrónica entendida como qualquer tecnologia de distribuição de informação numa forma que possa ser acedida e visualizada pelo computador e que utiliza recursos digitais para adquirir, armazenar e transmitir informação de um computador para outro. Ou como, afirma James Rush em 1966, "uma publicação em forma adequada para o uso no computador e que tecnicamente pode existir em forma de campos magnéticos ou de meios magnetizáveis, ou em forma de transformações físicas, químicas ou magnéticas de algum meio que possam ser detectadas por meio de luz (raio laser). É o aparato que permite aos humanos aceder e ler as publicações do que é electrónico".
A publicação electrónica científica apresenta algumas vantagens em relação à publicação impressa convencional, tanto para o editor como para o utilizador final da informação.

Vantagens para o editor: as publicações electrónicas podem atingir uma grande audiência potencial, devido à disponibilidade universal da informação, oferecem disponibilidade para todas plataformas de hardware/software, baixo custo de investimento e de produção, eliminação dos custos de reprodução e transporte. Permitem novas formas de apresentação (áudio, vídeo, interacção com o usuário final da informação), integração com outros sítios (sites) e documentos da WWW e indexação electrónica. Diminuem os atrasos de publicação e possibilitam a submissão electrónica de manuscritos.

Vantagens para o utilizador: baixo custo de acesso, disponibilidade instantânea e global de uma informação mais rica em conteúdo do que outras media, facilidade de cópia e impressão, informação mais actualizada e fácil de encontrar através de mecanismos de procura (busca), a possibilidade de diálogo interactivo com autores e editores.
A publicação electrónica na Internet também impõe uma série de limitações: dificuldade de protecção dos direitos de autor devido à possibilidade de reprodução ilimitada, legitimidade e qualidade da informação, a cultura prevalecente do "tudo é de graça", preocupações de segurança, ligações lentas sobretudo quando se trata de produtos (projectos) multimédia, dificuldade crescente de se obter visibilidade devido à grande quantidade de informações e sítios (sites) disponíveis.
Em termos técnicos, proliferam as ferramentas de edição electrónica, com o surgimento de vários padrões e alternativas. Também é importante ressaltar que o crescimento exponencial do número de documentos existentes na Internet, observado a partir de 1993, faz com que sistemas de organização e armazenamento de dados, como bibliotecas digitais, tenham adoptado a edição electrónica.
A edição electrónica tem a forma de hipertexto, hipermédia e multimédia. Hipertexto é entendido como uma tecnologia para organizar e armazenar informação numa base de conhecimentos cujo acesso e geração é não sequencial (linear) tanto para autores como para utilizadores. O hipermédia inclui não apenas textos mas gráficos, áudio e vídeo. A nível conceptual, não pressupõe nenhum avanço em relação ao hipertexto. Oferece como o hipertexto uma rede de conhecimentos em que o utilizador ou o estudante se pode mover e explorar rotas e itinerários não sequenciais através do espaço de informação conceptual. Trata-se, pois, de um processo de exploração, de descoberta e de experiência pessoal distinto do processo de exposição e transmissão. São elementos dos sistemas hipermédia: nós ou quadros, isto é documentos ou unidades básicas de armazenamento da informação (textos, gráficos, vídeo, áudio, etc.); ligações ou interconexões, geralmente associativas, implícitas ou explícitas; redes de ideias subjacentes à estrutura organizativa do sistema determinado pelo modelo de informação da base de organização do conhecimento; itinerários criados pelos autores, recriados pelos utilizadores ou procurados interactivamente por ambos.
Depois desta informação básica que pode ser explorada e desenvolvida pelos leitores, utilizando o sistema hipermédia, através da Internet, poderemos entender facilmente quer os processos de criação de nós, quadros ou unidade de base decorrentes da investigação, o estabelecimento de relações ou interconexões entre estas unidades de base; quer a ideia que está subjacente tanto à estrutura de organização do conhecimento como ao tipo de interactividade a propor ao utilizador.
O hipermédia é, cada vez mais, um importante meio de publicação do trabalho científico em antropologia através de um número, em crescimento acelerado (explosivo), de jornais on-line, sítios (sites) individuais ou institucionais (professores, universidades, departamentos...), teses, textos dos autores clássicos[1] da antropologia, filmes, grupos de discussão e de investigação, fora e congressos virtuais, assim como pelo crescente número de publicações em suporte digital.
As novas tecnologias são, elas próprias, objecto de investigação e debate para as ciências sociais (Castells, Levy) e para a antropologia em particular (Hine, Kalawski, Hudson, Castells) incluindo o estudo dos textos electrónicos como meios de representação, o estudo etnográfico do modo como as novas tecnologias são experimentadas por diversos grupos sociais e profissionais na sociedade actual.

José da Silva Ribeiro


  
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Edição:

N.º 177
Ano 17, Abril 2008

Autoria:

José da Silva Ribeiro
Centro de Estudos das Migrações e das Relações Interculturais. Laboratório de Antropologia Visual. Universidade Aberta
José da Silva Ribeiro
Centro de Estudos das Migrações e das Relações Interculturais. Laboratório de Antropologia Visual. Universidade Aberta

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