Página  >  Edições  >  N.º 175  >  Uma reunião atípica de executivos, políticos e artistas

Uma reunião atípica de executivos, políticos e artistas

FÓRUM DE DAVOS

O Fórum de Davos reúne todos os anos nas montanhas suíças uma importante combinação dos mais importantes donos do mundo. São os representantes do poder político, económico e cultural do planeta, oficialmente interessados e apostados em debater os problemas da humanidade e, certamente, interessados em saber como continuar a conduzi-lo e a dominá-lo.
Apontados como promotores de uma visão exclusivamente capitalista e liberal, ou neoliberal, do mundo, a reunião organizada desde 1971 pelo Fórum Económico Mundial (WEF, siglas em inglês) é o encontro anual dos mais ricos, poderosos e famosos do planeta. Para participar, não se pode ser pobre: as mil maiores empresas do mundo pagam por ano 42.500 francos suíços (26.300 euros) para serem membros do WEF, e cada membro individual paga 18.000 francos suíços (11.000 euros) para ir a Davos. Uma centena de multinacionais desembolsam, além disso, 500.000 francos suíços por ano (310.000 euros) para serem "sócios estratégicos" do WEF.
No seu discurso retórico, o WEF diz que o seu objectivo é nada menos nada mais do que "melhorar o mundo" e, durante a sua reunião anual, nesta estância de esqui, sucedem-se os anúncios sobre doações para obras de caridade.
De facto a melhoria do mundo, para estes homens poderosos, não passa por considerarem uma alteração da organização económica, social e política, que promova a possibilidade de cada ser humano ser dono de si próprio, mas passa, quando muito, pela possibilidade de distribuírem algumas das migalhas que sujam a toalha da sua mesa farta. Durante o Fórum, a localidade é invadida por mais de 2.500 participantes, 10.000 jornalistas e serventuários do WEF, e todos são submetidos a um severo dispositivo de segurança.
Mais de 200 debates durante os cinco dias da reunião celebram a análise de coisas tão diversificadas que vão da situação do Paquistão à luta contra o cancro. Na verdade, enquanto tais debates decorrem e alguns se entretêm com o debate sobre a politica internacional, nos corredores, nas salões e nos maples proporcionados pelo Fórum, a ocasião é óptima para muitos presidentes de empresas se reunirem de maneira informal e combinarem os negócios que verdadeiramente interessam.
O evento foi criado por um professor de Economia, Klaus Schwab, e é organizado por um grupo totalmente privado e que cada vez mais se parece com o organismo internacional que verdadeiramente governa o mundo. Davos permitiu criar, nalguns anos, alguma ficção, tendo as ficções mais conhecidas sido, talvez, a assinatura de uma declaração greco-turca em 1988, uma reunião entre F.W. de Klerk e Nelson Mandela em 1992 e um acordo de paz israelo-palestiniano assinado por Simon Peres e Yasser Arafat sobre Gaza em 1994. Mas nada disto passou, de facto, de ficção política. Como se calcula a reunião anual do WEF é excelentemente servida e requintada oferecendo sendo abundante e farta em coquetéis, recepções e nas mais variadas diversões. Tudo coisas que, muito provavelmente, ajudam a acertar as contas do mundo.

José Paulo Serralheiro


  
Ficha do Artigo
Imprimir Abrir como PDF

Edição:

N.º 175
Ano 17, Fevereiro 2008

Autoria:

José Paulo Serralheiro
Professor e Jornalista. Director do Jornal a Página da Educação.
José Paulo Serralheiro
Professor e Jornalista. Director do Jornal a Página da Educação.

Partilhar nas redes sociais:

|


Publicidade


Voltar ao Topo