Página  >  Edições  >  N.º 172  >  Os rituais

Os rituais
Tinha chegado há pouco à escola depois de uns anos noutras funções pedagógicas mas nãos lectivas.
Com cuidado reaprendia as rotinas escolares, os espaços, os tempos e os ritmos dos alunos.
Um dia, numa aula com uma colega, recebemos uma informação escrita com uma caixa com uns prémios para entregar aos alunos. Tratava-se de prémios de uma actividade em que tinham participado no ano anterior, sobre educação ambiental, em colaboração com uma outra instituição.
Apressada, para fazer render o tempo da aula, comecei a anunciar o que se seguiria. A minha colega chamou-me e pediu-me que aguardasse um pouco.
Então, continuando a minha informação, fez uma breve exposição, lembrou o trabalho do ano anterior e explicou o significado daqueles prémios que iam receber.
Depois, um a um, chamámos os alunos, como se os chamássemos ao palco. E, naquele palco imaginário, entregámos, a um de cada vez, o pequeno prémio e respectivo diploma. Depois de cada um se retirar e se sentar é que o seguinte era chamado, por ordem alfabética claro.
Entregávamos e cumprimentávamos, de mão estendida, ou com um beijinho.
É certo que esta pequena cerimónia demorou um pouco mais que a simples distribuição, no lugar de cada um deles, dos prémios respectivos. Mas evitou, logo à partida, a banalização do significado da oferta recebida. Ao outorgar importância à entrega do pequeno prémio, estávamos a outorgar também importância a cada um daqueles alunos e ao trabalho que tinham realizado. Estávamos a abrir espaço para adesão a outras actividades do mesmo género. Aliás estávamos a afirmar a importância das actividades deles.
Depois, reflectindo sobre isto, pensei na importância substantiva dos rituais e na forma como o simbólico pode ser tão educativo como um enunciado discursivo. Uma imagem pode valer mais que muitas palavras, mas uma vivência vale sempre mais que muitas imagens. Ser protagonista, embora de âmbito reduzido, de uma felicitação, acompanhada de algum ritual, atribui a cada um, outro significado e sentido.
A minha colega, com sensibilidade, intuiu este saber, e mostrou como pequenos e simples funcionamentos, podem contribuir para uma acção pedagógica a tempo inteiro, e como os rituais se podem revestir de sentido e significado.
Isto em qualquer situação, pelo que dificilmente os rituais são neutros ou anódinos.

  
Ficha do Artigo
Imprimir Abrir como PDF

Edição:

N.º 172
Ano 16, Novembro 2007

Autoria:

Angelina Carvalho
Colaboradora do CIIE da faculdade de psicologia e ciências da educação da Universidade do Porto
Angelina Carvalho
Colaboradora do CIIE da faculdade de psicologia e ciências da educação da Universidade do Porto

Partilhar nas redes sociais:

|


Publicidade


Voltar ao Topo