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Maria de Lourdes Rodrigues não é nada poupada. Quem é que inventou uma coisa dessas?

Quando os governos, por opções e razões de índole variada se põem a ?apertar o cinto?, emerge e renova-se sempre um discurso justificativo na base do ?tem que ser?. Uma espécie de fado que nos arrasta por um fatalismo interminável, ?verdadeiramente inevitável?, passe o pleonasmo.

Foi assim no tempo de Salazar durante aquele fatídico quase meio século, foi assim com os primeiros governos normalizadores de Mário Soares quando era preciso ?limpar a perdição catastrófica do rumo ao socialismo? por onde o país queria parecer enveredar nesses primeiros anos pós 74.

Parece ser assim com o governo de José Sócrates.

Especificamente no que diz respeito à Educação é fácil ouvir, até numa sala de docentes, que a Ministra age desta forma ostensiva, agressiva e até ofensiva da identidade dos professores porque anda, como o governo, a poupar dinheiro à custa da classe média, sobretudo da classe média baixa, se é que a definição é aceite pelos especialistas em Ciências Políticas e em Sociologia.

Ou seja, sua EXª a Senhora Ministra da Educação, sendo tão exigente com a classe docente, fá-lo-ia pela necessidade de levar o país a níveis dignos de literacia, fá-lo-ia cheia de boas intenções, consciente da verdade das suas próprias convicções.

Pura mentira. Independentemente do facto de o autor destas linhas poder até estar de acordo com uma série de medidas que eram urgentes para as escolas, não viu ainda que, as iniciativas tomadas correspondessem a uma avaliação exaustiva de tudo o que se fez em  Educação nos últimos 33 anos, desde Abril. E fez-se muito e da melhor qualidade.

Possivelmente esta história está ainda por escrever; provavelmente muitas das riquíssimas experiências pedagógicas levadas a cabo por professores das escolas - muitas vezes em colaboração com outros especialistas e no âmbito das respectivas  comunidades educativas ? permanecem ainda arrumadas nalgum caixote antigo de uma divisão qualquer, de uma direcção regional, de uma direcção geral -lá para a 24 de Julho que fica quase fora de Portugal, lá para a 5 de  Outubro que é ainda mais longe ? à espera de alguém que veja o que lá há.

Provavelmente a maior parte desta herança desapareceu sempre que um governo PS governou depois de um governo PSD, ou vice-versa, e tudo o que se fazia anteriormente foi encerrado, sem qualquer avaliação, sendo, provavelmente, abandonado ou desfeito num qualquer camião do lixo.

E talvez muito deste enorme património fique somente arquivado na memória daqueles que ajudaram a construí-lo, fechado para sempre em recordações de lareira entre amigos que se juntam às vezes ou na frescura de netos que gostam de ouvir histórias antigas aos avós.

E, certamente, aqui mesmo à nossa porta há experiências riquíssimas que passam despercebidas, que nunca ninguém notou ou valorizou, nem mesmo a Tutela com o seu empenho em fazer emergir o ?mérito?.

É por isso que afirmo que Maria de Lourdes Rodrigues não anda a poupar o dinheiro dos contribuintes, nem a engrandecer o país. Não porque esbanje, como se tentou acusar no caso do casting em que cada criança recebeu 30 euros para participar na apresentação do Plano Tecnológico da Educação. Mas porque ? tentando levar a cabo reformas de fundo que mexem com a vida das Escolas e da População Portuguesa, devia avaliar mais e melhor o que antes se fez e aproveitar o que de bom houve. Para quem fez parte de um Observatório de Qualidade, ainda não conseguiu explicar-nos as razões de tudo o que anda a fazer? E enquanto não percebermos, acreditaremos profundamente que o governo do país, pelo menos para nós, não anda nada bem. E não ?tem que ser?.

Que as férias nos retemperem?


  
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Edição:

N.º 170
Ano 16, Agosto/Setembro 2007

Autoria:

Rafael Tormenta
Professor do Ensino Secundário
Rafael Tormenta
Professor do Ensino Secundário

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