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Estudos culturais e pesquisa qualitativa em educação
No âmbito do debate acerca de Métodos qualitativos nas ciências sociais e na prática social, há com certeza espaço para reflexão sobre as contribuições dos Estudos Culturais, destacando-se nesse campo, a convergência de correntes teóricas e metodológicas (pós-colonialismo, análise do discurso), por sua contribuição para a pesquisa qualitativa nas ciências sociais.
Os Estudos Culturais nas últimas décadas do século XX, tem se apresentado como uma das correntes teóricas que tem contribuído, tanto dentro como fora da academia, para o impulso a uma forte crítica às patologias da ocidentalização. A evidente série de paradigmas ativos em convergência no campo dos Estudos Cultuais tem contribuído para que se torne um campo que funciona como uma alquimia para produzir conhecimento útil sobre o amplo domínio da cultura humana. Alquimia que se aproveita de campo teórico - como o marxismo, o feminismo, a psicanálise, o pós-estruturalismo e o pós-modernismo na intenção de compreender a transformação social e a mudança cultural.
Do ponto de vista metodológico não tem uma metodologia distinta, nenhuma análise estatística, etnometodológica ou textual singular que possam reivindicar como sua. Tal posicionamento metodológico define a importância da relação entre os problemas de pesquisa e o contexto no qual esses problemas emergem ao mesmo tempo em que se assume o risco da posição tomada ? associação a múltiplos métodos, seja pelas dificuldades em relação à ação dos sujeitos, seja pelo comprometimento com o rigor necessário na produção de conhecimentos.
Destacamos as principais categorias de pesquisa dos Estudos Culturais: gênero e sexualidade, nacionalidade e identidade nacional, colonialismo e pós-colonialismo, raça e etnia, cultura popular e seus públicos, ciência e ecologia, política de identidade, pedagogia, política da estética, instituições culturais, política da disciplinaridade, discurso e textualidade, história e cultura global numa era pós-moderna.
Entende-se ser produtivo, para a pesquisa orientada pelos métodos qualitativos no campo dos Estudos Culturais, dar visibilidade a duas perspectivas teóricas de pesquisa nas quais as categorias acima mencionadas têm constituído objetos de saber/poder/ser: a análise arqueológica do discurso e a análise pós-colonialista. Associados aos Estudos Culturais, esses aportes teóricos e metodológicos têm na relação linguagem e cultura uma das estratégias de interpelação sobre a possibilidade de se identificarem elementos das dimensões constitutivas dos saberes e seres modernos. Trata-se de aportes implicados de forma imanente com as questões que emergem nas sociedades atuais e, portanto, com os objetos da pesquisa qualitativa no campo das ciências sociais.
Entendemos que a associação a essas referências pode contribuir para o campo das ciências sociais e humanas no sentido de funcionar como um indicativo, para esses campos, da necessidade de uma abertura para o estabelecimento de um diálogo permanente com diferentes e diversos domínios de problematização da cultura, a exemplo da mídia, dos discursos, e de outros campos de saber. Possibilita enfim a pesquisa um olhar que combina aspectos da dominação e da resistência nas diversas práticas sociais e culturais; o tratamento da linguagem como um sistema de significação; o reconhecimento do saber como uma relação de força; a identificação do poder como uma rede produtiva; e o acolhimento do discurso educacional como prática que define, constrói e posiciona os sujeitos.

  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 169
Ano 16, Julho 2007

Autoria:

Rosângela Tenório de Carvalho
Professora do Centro de Educação ? UFPE, Brasil
Rosângela Tenório de Carvalho
Professora do Centro de Educação ? UFPE, Brasil

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