Página  >  Edições  >  N.º 167  >  Estudos no/do cotidiano para ir além do pragmatismo

Estudos no/do cotidiano para ir além do pragmatismo
Acredito que as observações e inferências que conhecemos por intermédio das pesquisas do cotidiano podem auxiliar os profissionais de educação a redesenhar muitas de suas práticas pedagógicas. Isto porque, o conhecimento sobre os processos de aprendizagem do cotidiano e sobre o desenvolvimento de habilidades metacognitivas são uma alternativa para a ampliação e criação de novas possibilidades de condução de aulas e de sistemas avaliativos mais eficazes e mais favoráveis às necessidades dos estudantes na contemporaneidade.
Aliada ao prazer de relatar e pesquisar o cotidiano, esta costura teórica pode vir a reforçar a importância de uma visão dinâmica e construtivista do conhecimento acadêmico, reforçando a importância do diálogo entre este e os demais conhecimentos. Assim, valorizando a metacognição, as pesquisas no/do cotidiano podem contribuir para a utilização de sistemas contínuos de avaliação, baseados na idéia de desenvolvimento global dos sujeitos, e não apenas nos aprendizados estritamente cognitivos relacionados aos conteúdos.
Os estudos no/do cotidiano permitem dar relevo às capacidades que os estudantes possuem de aprender sozinhos e com os colegas mais experientes, produzindo conhecimentos e elaborando sua compreensão a respeito dos conteúdos em questão. Creio que a escola pode valorizar e investir mais nas habilidades de gerenciar o próprio aprendizado de seus estudantes. Pois, isto é, também, uma condição sine qua non para um professor que se coloque como facilitador da aprendizagem de seus alunos.
"Eu chego um dia a Paris e encontro um sociólogo amigo meu recentemente chegado de um país da África. Tinha conversado com alguns militantes que lhe haviam dito:
? Olha, o tempo de Freire acabou-se, o que a gente precisa hoje é de uma pedagogia pragmática. 'Na medida em que a massa popular aprender os conteúdos que a gente lhe distribui, ela se liberta'.
É a concepção fetichista do conteúdo, do objeto. O conteúdo sozinho não liberta ninguém, essa é a dimensão política da luta. Nem se quer pedagógico. É pedagógico como reflexo, é pedagógico como conseqüência, e não como fundamentação. A minha tese é a seguinte: nunca se precisou tanto quanto hoje de uma educação que fosse além do pragmatismo. Nunca se precisou tanto fazer o que eu costumo chamar de 'a unidade dialética contraditória' entre a leitura da palavra e a leitura do mundo". (Freire, In: Serbino et alii: 45). (1)
Trago, através das palavras inflamadas de Freire, uma pequena contribuição para que compreendamos a importância de, nas escolas, os professores levarem em conta tanto os conteúdos pedagógicos quanto as atitudes, como muitos já fazem. Desta forma, ir além do pragmatismo é valorizar os saberes ocultos, desconhecidos do currículo formal, mas vivos e presentes nos alunos.

1) SERBINO, Raquel Volpato et alii org Formação de Professores, São Paulo, Ed Unesp, 1998.

  
Ficha do Artigo
Imprimir Abrir como PDF

Edição:

N.º 167
Ano 16, Maio 2007

Autoria:

Maria Luiza Süssekind Veríssimo
Grupo de Pesquisa "Rede de conhecimentos e práticas emanecipatórias no cotidiano escolar" do Laboratório de Educação e Imagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, UERJ
Maria Luiza Süssekind Veríssimo
Grupo de Pesquisa "Rede de conhecimentos e práticas emanecipatórias no cotidiano escolar" do Laboratório de Educação e Imagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, UERJ

Partilhar nas redes sociais:

|


Publicidade


Voltar ao Topo