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O destino incerto de Eric e Céline...
Num diálogo que manteve com Michel Onfray para a revista Philosophie, Nicolas Sarkozy, um antigo ministro do interior de um Governo de Chirac que corre o risco de vir a ser Presidente da França, consolidou a ideia de que o ser humano é potencialmente perigoso depois de visitar, numa prisão em Rennes, uma jovem que cumpre pena pelo assassínio do marido, apesar de jamais admitir, até ter cometido o crime, a possibilidade de vir a ser autora de um acto de violência. Para Sarkozy cada ser humano transporta com ele a inocência e o pecado.
O filósofo Michel Onfray, em oposição, considerou que ninguém nasce bom ou nasce mau, defendendo que são as circunstâncias o que torna cada um bom ou mau. A título de exemplo, Onfray referiu que não se nasce homossexual, heterossexual ou pedófilo e que estas opções são determinadas pelas envolvências, pelas condições familiares e pelas condições sócio-históricas de cada um... A conversa parecia consensualmente divergente até ao momento em que Nicolas Sarkozy retorquiu dizendo pensar que se nasce pedófilo ou suicida e que tais opções serão mais inatas do que adquiridas.
Desconhece-se qual foi a reacção de Michel Onfray à revelação de um Sarkozy determinista, sabendo-se apenas que, na sequência do debate, o filósofo ofereceu ao então candidato à Presidência da França um livro de Freud ("Totem e Tabou", sobre a morte do pai), o "Anticristo" de Friedrich Nietzsche, recomendando-lhe ainda leituras de Michel Foucault ("Vigiar e Punir", um estudo sobre prisões) e, indirectamente, também de Pierre-Joseph Proudhon. Claro que o debate causou polémica em França. E ainda bem.
Sublinhando estas notas antes da segunda volta das Presidenciais francesas, a opor Nicolas Sarkozy a Sègolene Royal, corro o risco de estar a ser menos politicamente correcto para com o Presidente da França, o que só se justifica por preferir Sègolene, apesar de ser jornalista e de não ser francês. Preferências sem consequências. Também preferiria abordar apenas a agitada campanha para a Presidência da França, mas até neste tema a guerra e o terrorismo acabam por saltar para o palco.
A França está, por estes dias, suspensa das presidenciais mas também do futuro de dois franceses que os talibans do Afeganistão fizeram reféns, aparentemente para forçar Paris a retirar os mil soldados que mantém em Kabul. Ameaçados de morte, com a potencial sentença marcada para o final de Abril, os dois civis franceses cujo destino é incerto - Eric e Cèline - , militantes da organização não governamental "Terre d'Enfance", votariam em quem, se pudessem, livremente votar?

  
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Edição:

N.º 167
Ano 16, Maio 2007

Autoria:

Júlio Roldão
Jornalista do Jornal de Notícias
Júlio Roldão
Jornalista do Jornal de Notícias

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