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Facilitismo
Tenho lido várias noticias que referem que diversas associações de pais e encarregados de educação, vêm solicitar que a disciplina de Educação Física não seja motivo de avaliação para a entrada no ensino superior, ou melhor ainda, que a disciplina seja se o aluno assim o entender, é sem dúvida no mínimo ridículo que seja questionado a importância de uma disciplina tão versátil como a Educação Física. Não muito distante na forma de pensar, Descartes dissociou o corpo da mente, vimos então que Descartes errou, contudo esse erro continua a persistir; pergunto-me como é possível continuar a errar, ao dissociar o corpo da mente? A análise que eu retiro deste pedido, é somente uma, a procura de um facilitismo, um jogo de interesses, para alcançar objectivos, contornando a verdadeira essência do ser. Vários estudos realizados ao longo do tempo evidenciam que os jovens mais activos, têm uma capacidade de concentração mais aprimorada, o que melhora deveras a aprendizagem, possuem uma capacidade de interacção e de trabalho em grupo mais aperfeiçoada, são jovens mais predispostos a novos desafios. Questiono-me como é possível propor que não seja motivo de avaliação para a entrada no ensino superior. Acho que a sociedade de hoje procura isto, um facilitismo, ou seja, procura facilitar demasiado o que deve ser difícil e dificulta demasiado os processos de deveriam ser os mais simples.
Jovens mais activos, são mais predispostos à aprendizagem, devemos cultivar nos jovens o gosto por uma vida activa, e não promover vidas desprovidas de actividade física.
Considero este pedido, uma requesta ignóbil, e espero que o mesmo seja colocado numa prateleira; pois se a educação, se refere somente a uma educação mental então para que preocuparmo-nos com o corpo. O corpo e mente são um só, logo não se deve remeter para segundo plano o corpo, devido às repercussões nefastas que são originárias deste facto, devemos sim cultivar a sabedoria em harmonia com o corpo, criando desde a mais tenra idade o gosto pelo desporto e por uma actividade saudável. Quando a sociedade expõe que as crianças são cada vez menos activas, criam-se as actividades extra-curriculares de uma forma brusca, delegando as responsabilidades a instituições governamentais, promove-se então a importância por um leque disciplinar mais vasto, por outro lado, sugere-se que não haja uma especialização disciplinar. Vivemos um período conturbado de indecisões, onde surgem propostas do "se quiser", acho que as propostas são feitas sem consultar os especialistas, que fundamentem as mesmas. O longo processo de desenvolvimento e crescimento a que o ser humano é submetido, não termina no 12ª ano, a importância que a educação psico-sócio-desportiva exerce num jovem desde um ensino pré-escolar ao ensino superior, como constituição de um ser bio-psico-social é fundamental para que o insucesso caia no esquecimento. Por outro lado, hoje em dia as relações interpessoais são apontadas como um caso a melhorar, disciplinas versáteis devem ser tidas em conta para o melhoramento destes problemas interaccionais. Se pretendemos ter um ensino de qualidade não devemos dissociar o corpo da mente, devemos sim ter a noção consistente da importância desta mesma interacção entre o corpo e mente, e da sua importância para o crescimento do ser humano, mais, não devemos coadjuvar com o facilitismo, porque o mesmo numa vida realista não existe, logo, não devemos procurar contornar as situações sabendo que o mesmo é menos acertado. Devemos sim ensinar aos nossos jovens a lutar por aquilo que querem sendo os mais correctos, conhecendo as suas verdadeiras limitações, sem nunca dissociar o que eles são corpo e mente num só.

  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 166
Ano 16, Abril 2007

Autoria:

Gui Duarte Meira Pestana
Coordenador e Docente do Curso de Motricidade Humana Instituto Piaget, ISEIT - Mirandela
Gui Duarte Meira Pestana
Coordenador e Docente do Curso de Motricidade Humana Instituto Piaget, ISEIT - Mirandela

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