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Educação para os media: começar de novo

No 25º aniversário da Declaração de Grunwald 

Completam-se em 22 de Janeiro próximo 25 anos sobre a data em que a UNESCO publicou a inspiradora Declaração de Grunwald sobre Educação para os Media (*). No documento, elaborado por um grupo de peritos reunidos  naquela cidade alemã, começava-se por observar que muitas crianças passavam, já nessa altura, mais tempo a ver televisão do que a frequentar a escola. Esta realidade era assim analisada no documento em referência:
"Mais do que condenar ou justificar o inquestionável poder dos media, urge aceitar o seu significativo impacto e a sua difusão através do mundo como factos consumados, valorizando ao mesmo tempo a sua importância enquanto elemento de cultura no mundo hodierno. O papel da comunicação e dos media no processo de desenvolvimento não deveria ser subestimado, tal como a função desses meios enquanto instrumentos ao serviço da participação activa dos cidadãos na sociedade. Os sistemas político e educativo devem reconhecer as respectivas obrigações na promoção de uma compreensão crítica do fenómeno da comunicação entre os seus cidadãos".
Um quarto de século depois, estas linhas orientadoras mantêm uma actualidade evidente. Sobretudo porque, apesar de todas as reformas e da frequente evocação de preocupações por parte de pais e educadores, muito pouco se fez em Portugal de consistente e sistemático nesta matéria. E, no entanto, ao longo destes 25 anos, é verdadeiramente impressionante o quadro das inovações tecnológicas e das mudanças nas práticas comunicativas. Basta referir a liberalização do audiovisual, a explosão da TV por cabo, os telemóveis, os videojogos e, sobretudo, a Internet e todos os media e ferramentas que no seu âmbito se têm vindo a desenvolver.
Neste novo contexto, a informação cresceu exponencialmente, mas não se promoveu a capacidade de a procurar, nela navegar de forma inteligente e útil, de a avaliar e verificar. Há mais informação, mas não é nada seguro que haja melhor comunicação. Mais preocupante: a educação para os media, neste espaço de tempo, foi frequentemente reduzida à sua dimensão  tecnológica (como se fosse isso de que as gerações mais novas mais carecessem), mas num quadro em que raramente a tecnologia é convertida em tema de estudo e de análise. Grande é, assim, o risco, de fazer das escolas espaço ideal para a ampliação de mercados e de clientelas que os grandes grupos económicos das TIC ambicionam.
Perante estes enormes desafios ? a que haveria que juntar toda a gama de novas ferramentas da chamada web 2.0 que abrem a possibilidade de todos tomarem um papel mais activo no ciberespaço ? impõe-se aproveitar os 25 anos da declaração de Grunwald para relançar a educação para os media enquanto eixo estruturante da formação dos cidadãos.
A União Europeia, que tem tido uma actuação discreta neste terreno, tem aberta, neste momento, uma consulta pública (**) sobre o que tem sido e deveria ser, no futuro, a educação para os media. O contributo de todos os que se preocupam com a qualidade da formação para a cidadania deveriam agarrar esta oportunidade de fazer ouvir a sua voz na matéria e aproveitar para pressionar não apenas as autoridades de Bruxelas, mas também os responsáveis nacionais pela educação.
De facto, a educação para os media não pode ser meramente entendida como a capacidade de aceder, analisar e avaliar a informação difundida através das diversas linguagens e dos diferentes meios analógicos e digitais. Importa saber contextualizar essa informação num quadro cultural mais vasto e aprender a tirar partido dela para as necessidades da vida e para a criação de cultura e de comunicação.
Essa é uma tarefa de enorme alcance cultural e político a que urge meter ombros. 

(*) Cf.: http://www.unesco.org/education/pdf/MEDIA_E.PDF

(**) http://ec.europa.eu/comm/avpolicy/media_literacy/index_en.htm


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 162
Ano 15, Dezembro 2006

Autoria:

Manuel Pinto
Professor da Univ. do Minho.
Manuel Pinto
Professor da Univ. do Minho.

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