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Um muro maior que o de Berlim

O fosso económico entre o México e os Estados Unidos da América não é pior do que o existente entre Marrocos e a Espanha da União Europeia. O Produto Interno Bruto dos EUA é seis vezes superior ao do México, mas o da Espanha é 15 vezes superior ao de Marrocos. Não há pior muro do que este, escrevia João Rita neste espaço há precisamente um ano. Afinal há.
O muro que os Estados Unidos vão construir na fronteira Sul, 1200 quilómetros de betão e arame farpado para ?proteger? os americanos do avanço da imigração clandestina. O presidente George W. Bush foi claro ao dizer, na hora de assinar a autorização para a construção do muro, que os Estados Unidos têm a obrigação de defender as fronteiras e vão fazê-lo a sério.
Para já apenas em 1200 dos 3200 quilómetros de fronteira com o México, para barrar as zonas mais porosas da linha de separação, nomeadamente a linha que passa pelo deserto do Arizona onde, nos últimos dez anos, foram já encontrados os cadáveres de 3600 mexicanos que não conseguiram alcançar o sonho do El Dourado americano.
O presidente mexicano Felipe Calderon compara a obra autorizada por Bush ao ?Muro de Berlim? . Neste, que existiu durante 28 anos a separar a Alemanha comunista da Alemanha não comunista, morreram, nesse período, 192 alemães a tentar passar do Oriente para Ocidente. Número muito inferior ao número de mexicanos mortos por tentarem passar do Sul para Norte.
A dimensão da tragédia na fronteira dos Estados Unidos com o México avalia-se melhor quando se revela que muitos dos mexicanos mortos a tentar passar a fronteira são enterrados em valas comuns, como aconteceu a 350 em Holtville, na Califórnia, ou simplesmente abandonados, sem sepultura, em pleno deserto.
A par da construção do muro, os legisladores republicanos, a fazer fé numa notícia do Washington Times, preparam um projecto de lei que a ser aprovado anulará o denominado ?direito de solo?, consagrado na Constituição norte-americana, segundo o qual adquire a nacionalidade norte-americana toda a criança nascida no território dos EUA.

P.S. As coisas continuam feias em muitos locais do Mundo, como no Afeganistão, no Iraque, nos territórios palestinianos, para citar apenas os mais mediáticos. E como se não bastasse, a revolta nas periferias de Paris parece estar de regresso, como se fosse uma época, tipo época dos incêndios florestais. E o mau tempo ?


  
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Edição:

N.º 161
Ano 15, Novembro 2006

Autoria:

Júlio Roldão
Jornalista do Jornal de Notícias
Júlio Roldão
Jornalista do Jornal de Notícias

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