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Jardim de flores artificiais lembra extinção de espécies

Jardim de flores, disputas sobre arte em consequência da guerra e invasão tecnológica, eis três notícias a pedir atenção para o mundo em que vivemos.

No Jardim Botânico Nacional de Kirstenbosch, na Cidade do Cabo, Willem Boshoff «plantou» um campo de flores artificiais para exprimir a sua «tristeza» por causa da extinção de espécies, que tem vindo a ocorrer e que ameaça acentuar-se no futuro.
Este artista sul-africano demonstra fascínio pelas palavras, as plantas e a memória dos homens. Há 25 anos que se sente tomado por uma obsessão: «como exprimir o horror que representa a extinção de mais uma espécie"?
«Queria estudar as espécies desaparecidas, mas já não existem. Então fiquei obcecado em estudar todas as plantas que existem na Terra. Comecei pouco a pouco. Depois perseverei, fazia anotações e aprendi de cor o nome de milhares de flores», conta Boshoff.
«Não se trata de um projecto científico. É um projecto filosófico, um projecto sobre a tristeza», acrescenta este africânder [falante da língua dos descendente dos colonos holandeses da África do Sul] de 55 anos. «Jardim de Palavras III» é o nome da sua última obra.
Numa imensa superfície de relva verde podem ser contempladas 15.000 flores. Trata-se, na verdade, de caules de plástico adornados com uma pequena coroa vermelha e lenço branco disposto no centro como se fossem pétalas e, escrito em tinta preta, o nome de uma planta catalogada por ele.
Os dois primeiros «Jardins de Palavras», que contavam respectivamente com 5.000 e 10.000 nomes de plantas, evocavam lápides. Este último, «plantado» nos jardins de Kirstenbosch, tem mais cor. Pelo menos explicitamente. «Parecem flores e há uma espécie de alegria. Mas é ambíguo, pois a tristeza também está presente», explica o artista. A ideia nasceu durante uma visita ao cemitério de Ypres, na Bélgica, que recorda os estragos causados pela Primeira Guerra Mundial. «Quis criar um jardim com flores que vão morrer. É como estar com soldados a quem se conhece, com quem se luta, e que se sabe que vão desaparecer», acrescenta.
O professor Brian Huntley, encarregado do Instituto Nacional Sul-africano sobre a Biodiversidade, que supervisiona Kirstenbosch, sublinha que «os efeitos da mudança climática são extremamente preocupantes». «Na África do Sul temos mais de mil plantas ameaçadas de extinção", afirma.
As flores artificiais ficarão plantadas durante semanas, ou mesmo meses, até serem tapadas pela relva.

Rússia não vai devolver obras de arte apreendidas na Alemanha

Enquanto Willem Boshoff se inspira num cemitério nascido da Primeira Guerra mundial para criar o seu jardim das espécies desaparecidas, russos e alemães discutem por causa de obras de arte de que uns e outros se apoderaram durante a Segunda Guerra Mundial.
A Rússia não aceita devolver à Alemanha as obras de arte apreendidas pelo Exército Vermelho no fim da Segunda Guerra Mundial, declarou o ministro russo da Cultura, Alexandre Sokolov. «Não haverá restituição de bens culturais, não vamos usar mais esta palavra», disse Sokolov, citado pela agência Interfax. O ministro disse ainda que poderia, quando muito, discutir compensações económicas pelas obras.
O Exército Vermelho apreendeu várias obras de arte na Alemanha depois de 1945. As forças armadas alemãs criadas em 1935 (as "Wehrmacht") haviam feito o mesmo a bens culturais russos nos territórios que ocuparam no início da Segunda Guerra Mundial.
Moscovo e Berlim negoceiam há anos a restituição à Alemanha de uma colecção de 364 esboços e obras-primas «resgatadas» em 1945 por um capitão do Exército Vermelho, Viktor Baldin. A procuradoria geral russa impediu o governo, em 2003, de devolver à Alemanha esta colecção de Baldin.
A Alemanha também quer a devolução de uma obra monumental de Rubens, que desapareceu em 1945 e ressurgiu em 2003 na Rússia. Trata-se de «Tarquin e Lucrécia», que se encontrava na galeria do castelo barroco de Sans Souci, em Potsdam, perto de Berlim, e cujo valor é calculado em 80 milhões de dólares. O empresário russo Vladimir Logvinenko afirma tê-la adquirido legalmente numa venda privada.

Famílias modernas lutam contra a invasão tecnológica

Neste mesmo mundo em que mais ou menos à margem e em surdina um artista defende o ambiente com empenho e os países discutem ainda consequências de uma já velha guerra, a maioria das famílias parece, afinal, preocupada pela invasão, neste caso não de tropas mas de tecnologias.
Apesar das suas vidas serem invadidas por aparelhos electrónicos, as famílias modernas parecem continuar apegadas a alguns valores tradicionais e desejam preservar o tempo que passam juntas, revela-nos uma sondagem promovida pela Yahoo/OMD.
De acordo com esta sondagem, 72 por cento das famílias que usam novas tecnologias de comunicação, consideram importante viver tempo «fora da tecnologia», por exemplo jantando juntos ou participando em jogos de tabuleiro. Consideram ser importante, mas parece que não o fazem.
Esta sondagem, realizada junto de 4.500 famílias em todo o mundo, revela que as novas tecnologias consomem cada vez mais tempo. Por exemplo, em famílias americanas, que têm em média 12 aparelhos electrónicos de comunicação em casa, a jornada  [levando em consideração a forma como os entrevistados dizem usar o seu tempo] é de mais de 20 horas. Eles dedicam, por exemplo, 2,5 horas à televisão, 1 hora ao serviço de mensagens instantâneas, 1,2 hora aos e-mails, 1,3 horas à rádio, 3,6 horas à internet, 4,5 horas à família e 6,4 horas ao trabalho.
Esta consulta foi feita via on-line, no Verão, e a maiores de 18 anos. Um facto a ter em conta na leitura dos resultados. Inquéritos feitos aos alunos podem ajudar os professores a perceber como os jovens ocupam o tempo, a sua relação com a aprendizagem ou o modo como sentem o meio ambiente.


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 160
Ano 15, Outubro 2006

Autoria:

José Paulo Serralheiro
Professor e Jornalista. Director do Jornal a Página da Educação.
AFP
Agence France-Presse
José Paulo Serralheiro
Professor e Jornalista. Director do Jornal a Página da Educação.
AFP
Agence France-Presse

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