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Psicanálise perde espaço para a neurociência

Quando se aborda o tema do inconsciente, é praticamente impossível contornar o nome de Sigmund Freud. No entanto, 150 anos depois do nascimento do médico austríaco, a psicanálise perde terreno para as descobertas da neurociência, área da medicina que descreve as operações inconscientes do cérebro sem relação com a teoria freudiana dos impulsos reprimidos.
Apesar disso, Pierre Buser, neurologista e membro da Academia de Ciências francesa, reconhece que "três quartos da actividade cerebral não é consciente". Se assim fosse, explica, "teríamos uma tal avalanche de visões e de percepções que assediariam constantemente a consciência". As "operações mentais elementares" que o cérebro realiza através dessa parte não consciente constituem aquilo que designa pelo ?inconsciente cognitivo".
Uma das facetas mais conhecidas desta dimensão cognitiva é a chamada memória implícita, que despoleta os automatismos que nos permitem caminhar, comer ou conduzir um carro sem pensar como fazê-lo, que por sua vez é precedida de uma "preparação para a acção", sequência muito breve e inconsciente de menos de 500 milissegundos que antecede a acção.
A par desta e de outras descobertas, os cientistas têm constatado, no entanto, alguns efeitos em campos do inconsciente cognitivo que não conseguem explicar. A "visão sem ver" dos cegos, por exemplo, que apontam o dedo na direcção de estímulos luminosos dos quais não têm percepção consciente. Ou a heminegligência, patologia que impede um indivíduo de ter consciência de metade de seu campo visual, táctil e até cognitivo.
A priori, nada nestas descobertas contradiz a explicação psicanalítica do inconsciente, esse desconhecido feito de lembranças e de impulsos reprimidos. A grande diferença é que o campo de investigação das neurociências se baseia na experimentação, em particular graças às tecnologias de imagem magnética (IRM).
?Este é justamente o ponto fraco da teoria freudiana?, afirma Pierre Buser, autor de "L'inconscient aux mille visages" (O inconsciente das Mil Caras, numa tradução literal), explicando que "Freud criou um sistema perfeitamente lógico, mas totalmente indemonstrável". Buser espera, no entanto, que ?o progresso tecnológico permita um dia desvendar o inconsciente das profundezas", o tal que Freud tentou descobrir apenas através do diálogo com os seus pacientes.


  
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Edição:

N.º 157
Ano 15, Junho 2006

Autoria:

AFP
Agence France-Presse
AFP
Agence France-Presse

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