Exames à porta, as escolas não pensam em mais nada: Maio, Junho e Julho; um tempo e uma temperatura tão bons para serem dedicados a actividades conducentes ao desejo de educação permanente e à verdadeira literacia dos jovens, transformado em três meses de ?fare niente?, a não ser meter coisas na cabeça à força, que logo são esquecidas mal acabem as ?provas de fogo?. Deus seja louvado!
Nestas segunda e terceira semanas de Maio, Cátia Esmeraldina, no 12º ano, não teve senão testes. Um por dia, às vezes dois. O mesmo aconteceu com sua irmã, Vanessa Joaquina, aluna do 9º ano que complementará esta odisseia com provas globais na próxima semana, todos os dias, uma de manhã, outra à tarde. As aulas terminarão para ambas já a 9 de Junho. Seriam uma ?férias? merecidas para quem passou semanas a fio a inventar «estratégias próprias de alunos» para ter êxito nestas provas de avaliação, se não estivessem a chegar os famosos exames, para as duas, os quais têm servido de paradigma para todos aqueles trabalhos sumativos e (selectivos) que já realizaram. Exames à porta, as escolas não pensam em mais nada: Maio, Junho e Julho; um tempo e uma temperatura tão bons para serem dedicados a actividades conducentes ao desejo de educação permanente e à verdadeira literacia dos jovens, transformado em três meses de ?fare niente?, a não ser meter coisas na cabeça à força, que logo são esquecidas mal acabem as ?provas de fogo?. Deus seja louvado! Razão teve em parte o Gabinete de Avaliação Educacional do ME quando comunicou às escolas que optava ?pela eliminação da <<prova-modelo>>, dado que a mesma implica, entre outros aspectos, uma excessiva previsibilidade de instrumentos utilizados na avaliação externa que desencadeia na prática lectiva de um significativo número de professores o efeito de habituação, privilegiando um trabalho de sala de aula centrado na preparação para o exame, em detrimento do desenvolvimento de competências e capacidades preconizadas pelos programas.? Bem pensado; mas não se trata só da prova-modelo; a representação social do que são os exames é que está imbuída de um espírito que ? quer para os ?cronistas do reino? que escrevem nos jornais e revistas o que lhes vem à cabeça, quer para muitos pais e até para muitos professores e para muitas escolas ? faz parte da validação não só do trabalho dos alunos, mas também do seu próprio exercício profissional. Pura ilusão, porém. Podem vir esses algozes dos media cheios de vontade de publicar rankings (por que não anunciam sondagens? Era engraçado?); podem alguns responsáveis pensar que as escolas podem ser avaliadas pelos resultados dos exames; podem até alguns professores ficar ?deliciados? com os resultados das respectivas escolas. Mas não. Avaliar-se-ão alguns itens de âmbito cognitivo, mas nada disso se relaciona com a maior parte das competências essenciais à formação dos jovens: valores, atitudes ? o ser capaz de ajudar os outros, o sentir-se motivado para trabalhar em voluntariado, a capacidade de trabalho, as competências de pensar, de organizar, a maneira como se organiza e utiliza o conhecimento em função dos outros. Coisas ?corriqueiras? como fazer bolos para vender às fatias na escola, ou lavar carros de professores, ou ir por esses centros comerciais fora pedir patrocínios ? tudo para se poder realizar pelo menos uma visita de estudo. E tudo isto sem esquecer a grande ajuda que é necessário prestar no negociozito dos pais, a lida doméstica e todas aquelas outras formas de aprender, como a organização de dossiers temáticos ao longo do ano ou de portfolios, a dinamização de debates para os colegas ou de exposições para a escola. Coisas importantes de quem aprende a saber e a saborear o saber. E se os exames podem verificar alguns dos produtos de todos estes percursos, não conseguem avaliar todo o valor desencadeado pelos processos. Para tal, são necessários professores ou conselhos de turma expeditos e escorreitos, trabalhadores intelectuais que conhecem bem a sua profissão e a dimensão do que é a avaliação. É por tudo o que atrás foi explicitado que Cátia Esmeraldina vai ter 20 numa certa disciplina. Mesmo que no exame tenha só 12, ou 10, ou negativa. Ela não forjou a sua nota num colégio caro onde o dinheiro parece determinar o futuro do Mundo. Mereceu-a, teria direito mesmo a ter um 30. E podem vir depois os tais ?arautos de verdades incautas? mostrar as diferenças entre as notas de frequência e as de exame, como se se tratasse dos mesmos objectos de avaliação. Falem para aí!... Que nós também cada vez acreditamos menos, até no jornal que já só às vezes vamos lendo?
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